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Caso Rodrigo Faro: Especialista aponta gravidade de corrupção em cidadania italiana

Camila Malucelli, especialista em reconhecimento de cidadania, detalha tipo de corrupção e faz recomendações importantes a brasileiros

Rodrigo Faro usou as redes sociais para se defender das acusações - Agnews
Rodrigo Faro usou as redes sociais para se defender das acusações - Agnews

Um dos assuntos mais comentados nas redes sociais é o caso do apresentador, cantor e ator Rodrigo Faro. O jornal italiano RaiNews noticiou, na última segunda-feira, 27, que o artista e a esposa Vera Viel foram acusados de participar de um suposto esquema de corrupção de venda de passaportes, vistos e cidadania italiana. Nas redes sociais, o titular do Hora do Faro, da Record, afirmou que foi vítima e acionou seus advogados.

A Contigo! conversou nesta terça-feira, 28, com Camila Malucelli, CEO da Ferrara Cidadania Italiana, empresa especializada no reconhecimento de cidadania e serviços consulares, para falar sobre o caso. Logo de imediato, ela diz acreditar que a informação envolvendo o nome do apresentador é inverídica.

"Analisando o caso, a notícia de que houve falsificação de documentos, eu não acredito nisso, até que me prove que ele tenha falsificado documentos para conseguir a cidadania italiana. Porque o Rodrigo, assim como a esposa (Vera Viel), eles têm descendência italiana e a cidadania italiana, se você comprova, através da documentação, é um direito. O que eu acredito é que não houve a permanência do Rodrigo em solo italiano durante todo o processo administrativo. E é isso que causou uma ilegalidade no processo do Rodrigo para obtenção da cidadania italiana. Ainda que ele tenha emitido o passaporte, como ele justificou, não significa que tenha sido feito dentro de um procedimento legal. E é isso que a Itália está investigando", diz.

Em seguida, Camila conta que esse tipo de corrupção é muito comum. "Esse caso é mais um de corrupção em cidadania italiana que acontece na Itália. O que que acontece? Existem hoje três formas para o processo de reconhecimento da cidadania italiana e uma delas é a por residência. Ou seja, você tem que ir à Itália, comprovar que você reside lá, fazer um registro de residência e permanecer em solo italiano durante todo o procedimento administrativo, até a conclusão do processo. O prazo médio desse procedimento administrativo é entre 90 e 180 dias. Menos do que isso pode acontecer, desde que o trâmite aconteça de uma forma rápida. Mas não é uma garantia", informa.

"Então, o que a gente supõe que deve ter acontecido com o Rodrigo Faro é que ele contratou uma empresa que propôs o reconhecimento da cidadania italiana dele de forma administrativa por residência na Itália, só que provavelmente essa empresa tinha algum esquema com a comune (equivalente, na Itália, aos nossos municípios), que é o que a gente entendeu pelo que a imprensa italiana também divulgou. É muito provável que essa empresa tinha um esquema com os funcionários da comune, através do qual os requerentes não precisam residir na Itália. Ou seja, elas não precisariam ficar lá durante todo esse processo - que é o que está previsto legalmente", destaca.

De acordo com a CEO, eles deveriam ter um esquema ilícito entre os colaboradores: "Então, a gente entende que é muito provável que o Rodrigo Faro tenha sido partícipe desse esquema ilícito dessa empresa com administração pública italiana. Não significa que ele estava ciente do que estava acontecendo. E, como o Rodrigo, muitos outros cidadãos não têm conhecimento dos trâmites de um processo de reconhecimento da cidadania italiana. Ele acreditou ou supôs que essa empresa estava falando a verdade e não foi conferir, não foi checar porque é um processo difícil para qualquer cidadão comum entender sobre ele. Não é um assunto simples, fácil. Então é justo esse o grande problema".

E continua: "A gente está em um meio de um assunto que ele não é tão simples de ser compreendido e essas empresas estão aproveitando dessa complexidade, para levar facilidade para as pessoas como se isso fosse um procedimento legal. Então essas empresas estão ultrapassando os limites legais dos prazos, fazendo as pessoas acreditarem nesse trâmite ilegal. Eu não sei se fui clara, mas para o Rodrigo ter conseguido a cidadania italiana ele teria que ter ficado na Itália por 90 dias, ininterruptos".

DICAS IMPORTANTES

Camila, então, dá conselhos importantes para quem pretende obter a cidadania italiana. "Devido ao aumento da procura para esse tipo de serviço começou a surgir no mercado um boom de empresas que prometem facilidades para os trâmites exigidos pela legislação italiana. As facilidades sempre existiram, mas elas não eram tão divulgadas. As pessoas tinham alguns esquemas com consulado italiano, furavam fila, mas não era nada tão escancarado. Mas ultimamente como tem muitas empresas prestando serviços de cidadania italiana, aumentou também o volume de corrupção. Isso quer dizer que as pessoas buscam a facilidade", diz.

"Tenho uma empresa há 20 anos, nós somos uma das maiores empresas do setor no Brasil, e eu digo que muita gente procura a empresa pedindo essa facilidade, pedindo para burlar o trâmite legal e a gente não faz. Mas tem público para isso, sim. Agora cabe à empresa passar o que é o procedimento legal, para que as pessoas não sejam coniventes em um esquema e não corram o risco de perder o seu direito adquirido por serem partícipes em um processo ilegal", emenda.

Para a especialista, não faz sentido, por exemplo, Faro ter procurado fazer a cidadania italiana por residência na Itália se ele não pode permanecer lá. Então, assim, existem outras alternativas que deveriam ter sido apresentadas pela empresa ao Rodrigo, para o caso de pessoas que não podem permanecer em solo italiano. "Esse é o resumo da ópera. Existem processos que não exigem que a pessoa fique na Itália, mas não foi o caminho que ele fez porque a cidadania italiana dele foi definida pela comune de forma administrativa, ou seja, ele teria que ter ficado lá na Itália", declara.

RECOMENDAÇÃO AOS BRASILEIROS

Camila, então, faz uma recomendação para outros brasileiros que estejam hoje na mesma situação de Faro. "O meu conselho é que as pessoas quando vão buscar o reconhecimento da cidadania italiana, que elas entendam que é um processo moroso, não é da noite para o dia que se conquista a cidadania italiana, mesmo contratando uma empresa. A empresa vai te ajudar a ser mais assertivo na montagem da documentação, no preparo dessa documentação no melhor advogado que ela vai te indicar, vai ajudar na formação da genealogia, vai entender se existem erros na sua documentação, para poder corrigir esses erros em cartório ou judicialmente", fala.

E continua: "A empresa é uma intermediadora para que a montagem desse caminho seja menos trabalhosa e custosa para você. Mas a empresa não pode garantir o fim. Porque o fim desse processo depende do sistema judiciário ou administrativo italiano. Quando ela garante o fim, significa que ela está partícipe de alguma coisa, que ela está intervindo, como por exemplo, a empresa que o Rodrigo Faro contratou. As pessoas precisam se conscientizar que esse é um processo moroso, que tem que estar cientes dos prazos e não querer encurtá-los. Porque encurtar os prazos significa burlar a legislação e a administração pública italiana".

A CEO ainda recomenda que as pessoas desconfiem de falsas promessas sobre facilidade para o processo de reconhecimento de cidadania italiana. "As empresas sérias e idôneas recomendam que as pessoas não se iludam com as empresas que acabaram de chegar no mercado e que não têm compromisso com os trâmites legais para obter a cidadania italiana", finaliza.