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TV / NOVELA DAS SEIS SIM!

Elas por Elas criou novo jeito de fazer remake e ousou com novela para a atualidade

Com o último capítulo levado ao ar nesta sexta (12), 'Elas por Elas' trocou modelo de remake fiel por 'relacionamento aberto' com a obra original

Arthur Pazin

por Arthur Pazin

apazin_colab@caras.com.br

Publicado em 11/04/2024, às 18h03

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Remake de Elas por Elas levou fatos do passado para outros personagens até a reta final - Reprodução/Globo
Remake de Elas por Elas levou fatos do passado para outros personagens até a reta final - Reprodução/Globo

Parece absurdo afirmar isso, mas fazer novela para a atualidade tem sido um desafio e tanto. E Elas por Elas cumpriu! A trama das seis da Globo, que chega ao final nesta sexta-feira (12), ousou ao levar ao público um folhetim totalmente contemporâneo, e criou, com isso um novo jeito de fazer remake na TV brasileira. 

Apesar de inspirada na obra de Cassiano Gabus Mendes, criada e exibida em 1982, a novela de Alessandro Marson e Thereza Falcão, com direção artística de Amora Mautner, trocou o tradicional modelo de remake fiel realizado ao longo das últimas décadas na emissora por uma versão que estabeleceu um "relacionamento aberto" com a obra original. Quer mais moderno que isso?!

A baixa audiência dos primeiros meses somada à compreensão real de sua razão quase pareceram frustrar a trama, mas com o passar dos capítulos e a sinergia entre a novela e o público cativo, Elas por Elas descobriu junto ao telespectador que seu maior segredo era justamente "sair da cola" da versão original e se tornar, sim, um folhetim das seis, pronto para um novo tempo e com suas próprias características.

Nostalgia deu lugar à ousadia

O primeiro passo foi resolver um grande desafio: criar um Mário Fofoca que não deixasse margem para comparações com o icônico personagem de Luís Gustavo. O detetive não só marcou época, que roubou a cena no início dos anos 80, fazendo da novela sua. Dessa vez, o segredo estava em colocar cada um em seu lugar e Lázaro Ramos encarnou um novo Mário, completamente seu, e que mesmo brilhando, deixou espaço de sobra para as sete protagonistas.

Leia também: Desejo dos autores de Elas por Elas, Lázaro Ramos criou um novo Mário Fofoca: 'Do jeito dele'

No geral, logo que foi anunciada, Elas por Elas, naturalmente, fez gritar a nostalgia na cabeça do noveleiro. Já na estreia, a novela se mostrou disposta a ser mais atualizada, mesmo mergulhando na espinha dorsal da primeira trama.

Pode ser que quem esperava por nostalgia, se decepcionou (E tudo bem!). Apesar da estrutura narrativa semelhante, a nova roupagem da obra mostrou que vinha para flertar absolutamente com a realidade atual, fosse no desenvolvimento das personagens, nos temas abordados ou nos apagamentos problemáticos, como o menor destaque dado a Eduardo (Luis Navarro), que na primeira versão era representado pelo mulherengo e tóxico, mas brincalhão, Renê (Reginaldo Faria).

A compensação em deixar uma novela feita para "elas" foi tanta que não bastou "cortar as asinhas", mas batizar o nome, que é neutro, com o nome de uma das criações mais geniais da adaptação: uma das amigas transexual. Renê (Maria Clara Spinelli) abordou a transexualidade em um estereótipo nada comum nos folhetins de até então, mas cada vez mais recorrente aqui do lado de fora - ainda que distante de uma realidade necessária -: longe do estereótipo marginalizado.

O mesmo aconteceu com a inserção do personagem Carlinhos (Luciano Mallman), o amigo de ONG da Ísis (Rayssa Bratillieri) e affair de Carol (Karine Teles). O ator cadeirante interpretou um cadeirante extremamente ativo, que não precisou ser didaticamente exposto a sua condição.

O próprio núcleo de Carol em si mostrou vida própria ao compor a personagem com um perfil de independência intelectual e financeira, valorizando a sonhadora vivida lá atrás como Marlene (Mila Moreira). Sem dúvidas, a diversidade de mulheres brasileiras foi um acerto contemplado na figura das sete protagonistas.

E o que falar do elenco jovem? Entre todos os nomes, Ísis e Giovani (Filipe Bragança) seguraram o romantismo em seu casal com torcida e trilha sonora associada aos pombinhos, levando química e verdade com o talento de cada um. É claro que o carisma deixado por ambos aí abrirá caminho para muitos trabalhos pela frente.

Elas por Elas
Elas por Elas chega ao final nesta sexta-feira (12) (Foto: Reprodução/TV Globo)

Brechas da versão original permitiram avanços

Quem gosta de novela sabe, remakes são pratos cheios para o noveleiro! Mas em Elas por Elas, recriar a receita não foi suficiente. A trama que se apoiou em personagens com desfechos definidos se aproveitou de brechas da versão original para fazer os próprios avanços, completamente diferentes.

Já no começo, era sabido, por exemplo, que isso aconteceria com o núcleo de Jonas (Mateus Solano), que, agora, poderia viver o amor com Adriana (Talitha Carauta), diferente de Jaime (Carlos Zara), que, lá atrás, censurado pela Ditadura Militar e impedido de se divorciar na história, virou um bibelô da mimada Helena (Aracy Balabanian).

O que o telespectador não imaginava é que o folhetim ainda guardava ousadias empolgantes e que não poupou, em segundo algum, apesar das crises de audiência e críticas negativas, as chances de manter a novela atualizada e diversa.

O aproveitamento das arestas deixadas pela história de Cassiano rendeu um casal sequer esperado: Carol e Natália (Mariana Santos). É claro que teve gente que torceu o nariz, mas pensando em 2024, seria praticamente impossível em uma roda de sete amigas, não ter espaço para duas delas se descobrirem apaixonadas, assim como muita gente que convive ao nosso redor.

As brechas também contribuíram para a vilanização que o horário das seis exige, com a criação de golpes e mais golpes para as rotinas de Helena (Isabel Teixeira) - que abandonou de vez a Maria Bruaca para ser a megera desprezível da faixa - e de Sérgio (Marcos Caruso), um vilão recheado de sentimentos.

Passado e presente de mãos dadas

O que fazer então com um flashback que servia apenas para os tormentos de Natália (Joana Fomm) na primeira versão? Nada mais folhestineco que desenvolver a partir daí o esqueleto da nova trama: um segredo ligado a outras personagens com a brilhante ideia de trazer Marcos (Luan Argollo) com pistas que desfocaram totalmente o seu propósito, revelado mais perto da reta final.

O vai e vem entre o passado desenvolvido e o presente agoniante beiraram, inclusive, ares de série com gosto de novela, em meio a tramoia de aproveitar um crime e ampliá-lo. A missão se cumpriu em não apenas trazer a história para o presente, mas dar sequência a ela.

Com a novela levada ao ar, a sensação que fica é que talvez se desde o começo Elas por Elas tivesse se desgrudado do original ou se tivesse sido contada a partir do passado teria sido mais aceita. Ou não! Pode ser que a novela apenas quis entregar um remake para a época certa e ser aceita por um público certo, mas também rejeitada pela resistência de outro. A expectativa, agora, é de que outras novelas ousadas venham para contribuir que a teledramaturgia continue ficando "elas por elas" com a realidade.