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Críticas / DIREITO DE AMAR

Reprise no Viva dá ao novo público 'direito' de conhecer uma novela 'sem pressa'

Inimiga da agilidade, mas nem por isso arrastada, 'Direito de Amar', em reprise no Viva, é oportunidade para apreciar uma novela de época clássica e ousada

Arthur Pazin

por Arthur Pazin

apazin_colab@caras.com.br

Publicado em 20/12/2023, às 16h15 - Atualizado em 21/12/2023, às 16h46

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Lauro Corona e Gloria Pires protagonizaram 'Direito de Amar', em 1987 - Arquivo/TV Globo
Lauro Corona e Gloria Pires protagonizaram 'Direito de Amar', em 1987 - Arquivo/TV Globo

Bastaram 15 capítulos no ar para Direito de Amar provar que é um novelão clássico e bem feito. Aos que já a conheciam, a reprise do Canal Viva surgiu como um presente nostálgico, mas para as novas gerações, a trama de Walther Negrão é oportunidade ideal para apresentar ao público uma novela "sem pressa".

Inimiga número um da agilidade, mas nem por isso arrastada, Direito de Amar é um folhetim que ganha o público pelos diversos elementos consistentes e que dão fôlego à história. Embora de época, a trama, inspirada em A Noiva das Trevas, radionovela de Janete Clair, nada tem a ver com o estilo de novelas de época mais leves que a Globo tem feito nos últimos anos, salvo Espelho da Vida (2018), novela de Elizabeth Jhinn aclamada pela crítica, mas que deixou a desejar no ibope.

Levada ao ar às 18h, o folhetim, escrito junto com Marilu Saldanha e Ana Maria Moretzsohn, e dirigido por Jayme Monjardim - que vivia seu auge estético de novelas de época após o sucesso de Sinhá Moça (1986) - consagra mais uma faceta versátil do novelista, que vai das praias ao rural e do infantil ao visceral, e prova ser ousada, não dependendo de um romance água com açúcar ou de comédia para se sustentar. 

Com ares sombrios e atuações viscerais, Direito de Amar aposta em cheio no drama e no mistério para cativar. Graças à permissão de uma maior audiência do público de então - que ainda era órfão de novelas adaptadas de obras literárias - a trama vai fundo em sua proposta e fica longe de temer a rejeição, virando em pouco tempo isca certeira para aqueles que gostam de novela, mas também amam ler um romance ao estilo mais detalhado e profundo.

A realidade das novelas talvez tenha mudado muito antes dos tempos atuais, tanto é que ao ser reprisada no Vale a Pena Ver de Novo entre 1993 e 1994, Direito de Amar foi inteiramente picotada, durando apenas três meses.

DIREITO DE ASSISTIR A UMA NOVELA

Vivendo um de seus últimos papéis na TV, Lauro Corona dá vida a um jovem dividido entre a profissão, a tradição e o amor em Direito de Amar, novela que marcava o retorno das produções das 18h após alguns meses sem inéditas. Sem muitas surpresas até então em sua personagem, o rapaz embeleza o folhetim enquanto seu pai, Montserrat, interpretado por Carlos Verezadá um show de atuação desde o primeiro momento com um personagem bem clássico.

Para perdoar uma família endividada - papéis interpretados por Edney Giovenazzi e Esther Góes, que presenteiam o telespectador em cena -, o ricaço exige se casar com a jovem Rosália (Gloria Pires). Até aí a novela parece não oferecer nada de muito diferente, visto que enredos como este estão presentes na dramaturgia desde os tempos das radionovelas cubanas ou dos textos latinos reproduzidos em toda a América.

O recheio predador ao público, entretanto, está no entorno deste núcleo central. Prometendo dias de sofrimento e angústia à mocinha em sua mão, Montserrat é rodeado de personagens fabulosos, causando a sensação de que a sua própria casa, por exemplo, é uma personagem, guardada e confidenciada pela brilhante atuação da governanta encarnada por Suzana Faini.

Em uma cena mostrada nos capítulos iniciais, a personagem de Cissa Guimarãres - que marca um momento espefício e curioso da atriz na TV, dando vida a uma vilã perversa - é mostrada em uma cena longa apreciando e observando os cômodos do casarão, com uma espetacular trilha sonora de fundo, elementos impensáveis para as telenovelas atuais.

Lauro Corona e Ítala Nandi em 'Direito de Amar'
Lauro Corona e Ítala Nandi em 'Direito de Amar' (Foto: Reprodução/TV Globo)

A mesma prática acontece ao exibir sequências relacionadas à Joana, memorável papel de Ítala Nandi na trama. Trancada em um quarto da casa, a mulher surge ao público primeiro aos gritos e mesmo ao surgir, sem palavras, comunica muito mais que dezenas de diálogos encomendados nos dias de hoje.

Apesar de não se sustentar na comédia, Direito de Amar também oferece momentos de alegria, principalmente ao exibir o núcleo de Manel (Elias Gleizer). O dono da confeitaria reúne em sua confeitaria artistas, que tocam, atuam e expressam a arte de uma maneira encantadora, com direito à participação de Cristina Prochaska, na pele da sedutora Carola.