Contigo!
Busca
Facebook Contigo!Twitter Contigo!Instagram Contigo!Youtube Contigo!Tiktok Contigo!Spotify Contigo!
Famosos / Análise!

Gabriel Diniz volta a cantar em álbum feito por IA: o que dizem os especialistas?

Em entrevista, três especialistas, o criador do projeto e o pai do cantor Gabriel Diniz comentam sobre álbum feito por IA que será lançado hoje (18), data que artista completaria 33 anos; confira

Gabriela Cunha

por Gabriela Cunha

gcunha_colab@caras.com.br

Publicado em 18/10/2023, às 21h07

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Especialistas, criador do projeto e pai do cantor Gabriel Diniz comentam sobre álbum feito por IA que será lançado hoje (18), data que artista completaria 33 anos; confira - Reprodução/Instagram
Especialistas, criador do projeto e pai do cantor Gabriel Diniz comentam sobre álbum feito por IA que será lançado hoje (18), data que artista completaria 33 anos; confira - Reprodução/Instagram

Você já imaginou ouvir a voz do cantor Gabriel Diniz, que morreu em um acidente aéreo em 2019, cantando músicas atuais de outros artistas? Pois é isso que um fã-clube chamado Memórias do GD fez, usando inteligência artificial (IA) para clonar a voz do ídolo e produzir um álbum com 14 faixas inéditas. O projeto foi lançado nesta quarta-feira, 18 de outubro de 2023, dia em que o cantor completaria 33 anos.

Gabriel Diniz ficou famoso nacionalmente pelo hit “Jenifer”, que foi uma das músicas mais tocadas no carnaval de 2019. Ele tinha 28 anos quando faleceu em um acidente de avião em Sergipe, junto com outras duas pessoas. O cantor era conhecido pelo seu carisma, sua alegria e seu estilo musical irreverente.

O álbum póstumo com a voz do Gabriel Diniz feita por IA é uma homenagem dos fãs que sentem saudade do artista e querem ouvir coisas novas por meio da sua voz. O idealizador e produtor do projeto é Felipe Alencar, fundador do fã-clube Memórias do GD e grande admirador de Gabriel Diniz. Ele conta que a ideia surgiu da saudade que sentia de ouvir coisas novas através da voz do ídolo.

Eu comecei a estudar sobre clonagem de voz a partir do início de 2021. Apenas por conta do motivo citado. Porque queria ouvir coisas novas por meio da voz dele e de outras pessoas (somente familiares) que amo”, diz Felipe.

felipe e pai de gabriel diniz
Felipe Alencar ao lado do pai de Gabriel Diniz, Cizinato Diniz - Foto: Instagram

Felipe explica que usou o Google Colaboratory e comunidades voltadas ao estudo de soluções em IA para aprender a clonar a voz do cantor. Ele diz que estudou, executou e alterou códigos em Python para separar a parte vocal da parte instrumental das músicas, converter a voz usando o modelo de voz do Gabriel gerado pela IA, e juntar a parte vocal convertida à parte instrumental, fazendo outros tipos de edições de áudio necessárias.

O resultado foi um álbum com músicas de artistas famosos, cantadas pela voz do Gabriel Diniz. Felipe diz que o processo foi prazeroso, emocionante e desafiador. “O meu objetivo é apenas matar um pouquinho da saudade que sinto e que várias outras pessoas sentem”, declara.

“Logo após o momento do acidente, a angústia e a tristeza me fizeram achar que nunca mais ouviria coisas novas por meio da voz do Gabriel. Mas como sempre fui um cara de fé, nunca deixei de acreditar”, afirma.

capa gabriel diniz
Capa do álbum de Gabriel Diniz feito por IA - Foto: Instagram

O pai do cantor, Cizinato Diniz, apoiou o projeto desde o início e ajudou na escolha das músicas. Ele diz que ficou encantado ao ouvir o timbre de voz do filho nas novas canções. “Não é profissional, é um projeto amador, só pra satisfazer a vontade dos fãs através de um fã-clube”, relata.

Cizinato diz que o álbum será exibido por meio do canal oficial do Gabriel no YouTube e através do perfil oficial dele no Sua Música, sem fins lucrativos. Ele também revela que recebeu algumas críticas de pessoas que não gostaram da iniciativa, mas que não se importa com elas.

Especialista em IA analisa novo álbum de Gabriel Diniz

O anúncio do álbum dividiu opiniões na internet, entre os que acharam uma homenagem bonita e os que criticaram a exploração da imagem do cantor morto. Além disso, o álbum levanta questões relevantes sobre consentimento, propriedade intelectual e direitos de imagem. Para entender melhor essas questões, conversamos com Philipe Moura, especialista em IA e músico.

Replicar com precisão a voz e o estilo de um artista demanda grandes volumes de dados, mas é tecnicamente viável. Esse processo pode ser (e certamente será) aprimorado com avanços nos modelos de treinamento, nos conjuntos de dados e mesmo no processamento. Mas existem muitas questões relevantes quanto a consentimento, propriedade intelectual e direitos de imagem. Um exemplo disso é que a IA pode ser utilizada para criar músicas no estilo de artistas falecidos; nesses casos, se o direito autoral protege expressões específicas de ideias (nesse exemplo, as músicas gravadas), um trabalho que traga características comuns ao conjunto da obra de um artista poderia causar disputas legais”, explica Philipe.

Ele também aponta que há uma questão ética sobre o que a pessoa teria gostado ou até aceitado expressar por meio da sua arte. “Esse tema, aliás, também é muito debatido no âmbito dos deep fakes”, acrescenta.

Philipe diz que não há resposta definitiva para essas questões, mas que podemos buscar exemplos em grandes compositores, como Schubert ou Beethoven, cujas sinfonias inacabadas tiveram versões “acabadas” por IA. “A recepção do público não foi das melhores. Quando perguntado, o professor e compositor que supervisionou o processo de criação da décima sinfonia de Beethoven, Walter Werzowa, disse que a nova obra era o resultado de um trabalho colaborativo, e não apenas de Beethoven”, conta.

Segundo Philipe, existem três grandes tendências na relação entre música e IA: modelos de aprendizado profundo que facilitam o processo de criação musical; plataformas de colaboração que permitem que humanos colaborem entre si e com máquinas em tempo real; e a ultrapersonalização da experiência musical, seja criando ou sugerindo músicas baseadas não apenas nas preferências do ouvinte, mas em contextos específicos como sua localização, seu humor ou batimentos cardíacos.

+ Ex noiva de Gabriel Diniz anuncia nascimento do primeiro filho: "Cheguei"

“A música foi revolucionada incontáveis vezes desde o seu surgimento e continua firme e forte – talvez mais presente que nunca em nossas vidas. Os executivos de uma grande gravadora recusaram os Beatles em uma audição – uma versão da história conta que os jovens músicos teriam ouvido que ‘bandas com guitarras já estão com os dias contados’. Desde então, sabemos que gêneros como o rock e a música eletrônica ganharam grande espaço no mundo, mas nem por isso as pessoas deixaram de ouvir e de compor música orquestral, por exemplo. A IA chegou para ficar. O cenário mais provável é que os humanos empoderados pela IA vão substituir os humanos que se recusam a trabalhar com a IA”, opina Philipe.

Ele também revela sua paixão pela música e pela tecnologia. “Eu também sou músico. A interseção de arte e tecnologia resultou, claro, em experimentos que deram errado ou foram, por uma razão ou por outra, abandonados, mas também trouxe resultados incríveis. Eu mal posso esperar para ver o próximo ato dessa ópera”, diz.

Por fim, Philipe provoca uma reflexão sobre a natureza da arte e da máquina. “A arte é um elemento essencial da experiência de ser humano. Assim, se uma máquina produz arte, ou não é arte, ou não é máquina. O primeiro cenário – não ser arte – eu deixo para os estudiosos; o segundo cenário, por sua vez, tem ótimos exemplos na ficção científica!”, conclui.

Advogados esclarecem possíveis processos diante do novo álbum de Gabriel Diniz

Os advogados Cesar Peduti e Juliana Kaomy, especializados em Propriedade Intelectual e Direitos Autorais, esclarecem que voz e imagem são direitos de personalidade com proteção legal, constitucional e infraconstitucional, os quais requerem expressa autorização para utilização e, no caso de pessoas mortas, dos cônjuges, ascendentes (pais) ou descendentes (filhos).

Eles também informam que está em tramitação o Projeto de Lei n. 3.592/2023 , apresentado pelo senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), o qual prevê que o uso da imagem de uma pessoa falecida por meio de IA só será permitido com o consentimento prévio e expresso da pessoa em vida ou dos familiares mais próximos.

advogados gabriel diniz
Advogados Juliana Kaomy e Cesar Peduti - Foto: Divulgação

Os advogados afirmam que, optando-se por utilizar esta nova tecnologia, por ora se requer ao menos expressa autorização dos sucessores para prevenção e defesa em eventuais ações judiciais. Eles dizem que os riscos enfrentados pelo fã-clube e o pai do artista são, em geral, de natureza tanto indenizatória, por meio de ações judiciais de esfera cível pela possível violação aos direitos de personalidade do artista, ainda que falecida, assim como penal, pela violação dos direitos autorais.

Felipe Alencar diz que tem a autorização do pai do Gabriel Diniz para usar a voz do cantor, e que não pretende lucrar com o álbum. Ele diz que o seu objetivo é apenas homenagear o artista e satisfazer a vontade dos fãs. Ele também diz que respeita as opiniões contrárias ao seu projeto, mas que não se deixa abalar por elas. “São livres. Têm todo o direito de expressar os seus pontos de vista. A liberdade de expressão é um fator essencial para a construção de uma sociedade cada vez melhor. Cada vez mais inclusiva”, afirma o rapaz.

Não perca nenhuma notícia dos famosos: siga a Contigo! no Instagram.