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Crítica: 'Os Outros', na Globoplay, mostra tragédia anunciada com excelência técnica

Com Adriana Esteves brilhando como sempre, 'Os Outros', nova exclusiva da Globoplay, mostra ciclo de ódio entre vizinhos: leia a crítica

Leandro Fernandes

por Leandro Fernandes

lfernandes_colab@caras.com.br

Publicado em 01/06/2023, às 10h30

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'Os Outros', na Globoplay, traz tragédia anunciada e jeitão de série da HBO - Divulgação/Globo/Estevam Avellar
'Os Outros', na Globoplay, traz tragédia anunciada e jeitão de série da HBO - Divulgação/Globo/Estevam Avellar

Estreou nesta quarta-feira (31) a nova série exclusiva da Globoplay, Os Outros. Protagonizada por Adriana Esteves, Thomas Aquino, Milhem Cortaz e Maeve Jinkings, a produção pega pesado ao mostrar o ódio crescente entre vizinhos de condomínio.

Criada por Lucas Paraizo, que também idealizou e comandou os roteiros de Sob Pressão, a série tem o mesmo clima opressivo da trama médica. Do começo ao fim, o primeiro episódio tem um clima de tragédia iminente, quebrado apenas por uma única memória feliz da família da protagonista Cibele, personagem de Esteves.

Tudo começa quando o adolescente Marcinho (Antonio Haddad), filho de Cibele e Amâncio (Thomas) é espancado por um outro menino morador do prédio, Rogério (Paulo Mendes), um estouradinho lutador de judô que é mimado pelo pai, Wando (Milhem), um machão que largou a esposa, Mila (Maeve) para cuidar da casa e se incomoda com a possibilidade dela voltar a trabalhar.

Superprotetora, Cibele compra a briga do filho e quer denunciar Rogério, mas é convencida pelo marido a desistir. O que se segue é uma escala de agressões entre os membros da família que vai construindo uma inevitável tragédia. É que Marcinho vai ficando cada vez mais amedrontado pelas ameaças, enquanto Cibele e Wando ficam cada vez mais descontrolados.

Tudo é lindamente filmado, com tomadas e cortes que se distanciam da linguagem de novela e aproveitam o cenário, um condomínio de classe média-alta, com quadra, piscina e diversas torres com arquitetura genérica, o típico empreendimento imobiliário para atrair os novos endinheirados do começo dos anos 2010.

O texto às vezes passa do ponto e chega ao exagero por se levar a sério demais. Sem respiro, o episódio pula de uma ameaça à outra, destacando as dinâmicas complicadas entre os membros da família: Wando incentiva a violência do filho e força a mulher a fazer sexo. Cibele não deixa que o filho lide com os próprios problemas, mantendo-o debaixo da asa o tempo todo. Mila e Amâncio são mostrados como mais apaziguadores.

O que segura tudo no lugar são mesmo as atuações, majoritariamente excelentes. Apesar de estar repetindo o papel de mãe superprotetora capaz de tudo, Adriana Esteves brilha como de costume. Esse é, inclusive, um ponto que poderia ter sido melhor no episódio: se a fúria da personagem deriva unicamente da ameaça ao filho, o drama fica mais raso. Seria interessante explorar o que leva essa mulher aos extremos que chega. Enquanto a atriz e Milhem chamam atenção pela atuação expansiva, Maeve e Thomas se destacam pela sutileza, este último, como sempre, se destacando pela naturalidade.

É inevitável a comparação com a série Treta, da Netflix, que acompanha duas pessoas em um ciclo de ódio e vingança após uma briga de trânsito. O que era para ser uma situação rápida se transforma numa maneira dos dois descontarem as frustrações - assim como parece ser o caso de Os Outros. Em Treta, no entanto, há um clima de absurdo que ajuda a não manter o clima sempre lúgubre. Na série da Netflix, também, o final é imprevisível.

E talvez seja esse o maior problema de Os Outros: o final da história é telegrafado a partir da primeira cena. Vou evitar spoilers neste texto, mas a série já abre apresentando um objeto que com certeza será usado de maneira destrutiva em algum momento, provavelmente pelo personagem mais fragilizado, o que também foi martelado ao longo do episódio. É claro que isso faz parte da tragédia, mas a série poderia se destacar ao explorar uma maneira mais ousada de contar essa história.

Mesmo com problemas pontuais, trata-se de mais uma produção com nível elevado de qualidade e que tem algo forte a dizer sobre o tribalismo e o ódio crescente entre as pessoas, que parecem incapazes de dialogar, além do impacto de paternidades e maternidades disfuncionais nos filhos. Os episódios serão disponibilizados semanalmente, às quartas-feiras, exclusivamente na Globoplay.