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Críticas / ÚLTIMO CAPÍTULO

Terra e Paixão se afastou da atualidade para virar ‘novelão’

Com missão cumprida de levantar o Ibope, 'Terra e Paixão' chega ao fim provando que público prefere uma sociedade que deveria ter ficado para trás

Arthur Pazin

por Arthur Pazin

apazin_colab@caras.com.br

Publicado em 19/01/2024, às 21h00

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Antônio La Selva (Tony Ramos) e Irene (Glória Pires) - (Foto: Divulgação/TV Globo)
Antônio La Selva (Tony Ramos) e Irene (Glória Pires) - (Foto: Divulgação/TV Globo)

Terra e Paixão se despede do público nesta sexta-feira (19). Embora a novela de Walcyr Carrasco e Thelma Guedes chegue ao último capítulo com a missão cumprida de levantar a audiência da faixa das nove, a trama precisou se afastar da atualidade para virar um “novelão”. Quando o folhetim dirigido por Luiz Henrique Rios levou seu primeiro capítulo ao ar, em 8 de maio, o cenário de quem ainda se senta à frente da TV para assistir uma novela global era outro: pelo menos há sete meses o horário não via os 30 pontos e nem a possibilidade de ali chegar com Travessia.

Já no primeiro dia de novela, Terra e Paixão empolgou e mostrou que chegava  para “adubar” a faixa com uma trama rural e intensa, recheada de conflitos, intrigas, segredos e um triângulo amoroso, elementos que prometiam, de cara, um dramalhão quase mexicano. E assim foi. Apesar de um início aquém da expectativa de muita gente, o folhetim decolou e voltou a deixar o horário amigável para os fãs de novela. Walcyr Carrasco antecipou acontecimentos e os 23 e 24 pontos das primeiras semanas logo se tornaram 27 em dois meses de novela, com capítulos que batiam na trave no tão esperado 30, meta da emissora para a faixa.

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Sociedade em marcha-ré

Com os números em alta e personagens na boca do povo, Terra e Paixão se consolidou e fez o caminho, em mudanças de marcha, para atingir seus 30 pontos e entregar para a substituta com o cenário estável. A novela também cumpriu sua missão em deixar saudades para muita gente, que grudou nas maldades de Antonio La Selva (Tony Ramos) e Irene (Glória Pires), no “romance” de Ramiro (Amaury Lorenzo) e Kelvin (Diego Martins) ou nas trapalhadas de Anely (Tatá Werneck) e do “rocambolesco” Luigi (Rainer Cadete).

No entanto, para que isso se tornasse realidade, a trama fugiu cada vez mais do contemporâneo. Ambientada em uma cidade muito pequena do interior do Mato Grosso do Sul, onde o comportamento cotidiano já é, naturalmente, mais afastado do cenário urbano e atual, Terra e Paixão foi ficando cada vez mais desalinhada à sociedade. Com permissão e liberdade para isso, afinal se trata de uma obra fictícia, a novela prova, com a subida de audiência, que o público atual da TV parece preferir, em marcha-ré, conviver com personagens e hábitos de uma sociedade que está ficando para trás (ou assim deveria).

Machismo, bordel, capanga sex symbol de gay caricata, mulheres sexualizadas, trama lésbica quase que esquecida e um combo de diálogos maquiavélicos repetidos insistentemente externaram uma realidade que vai na contramão do que a indústria audiovisual tem buscado. Apesar de ter quase a certeza de que ninguém ali concorda com isso, foi assim que Terra e Paixão conquistou a meta, acenando para um contexto que poderia ser levado, de igual maneira, à tela ambientado nos anos 1930 ou até mesmo em uma novela bíblica.

Sem dúvidas, o resultado desta equação está mais nas mãos do público do que da produção. Mesmo assim, exemplos recentes como Amor Perfeito e Vai na Fé mostraram que é possível unir o clássico e falar de temas sem estereotipar e repetir vícios, alcançando também a meta.