Beatriz Segall virou mito! - Divulgação

Jorge Brasil: Beatriz Segall vive! Um mito nunca morre!

Nunca livre da icônica Odete Roitman, a atriz deixa o mundo terreno, aos 92 anos, para entrar para a História

Jorge Luiz Brasil Publicado em 05/09/2018, às 16h35 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h46

Na noite do dia 24 de dezembro de 1988, um sábado, o Brasil parou para assistir a vilã Odete Roitman ser assassinada com três tiros, num capítulo antológico de Vale Tudo. E hoje, quarta 05, a intérprete da icônica personagem, Beatriz Segall, volta a unir todo o país, dessa vez, para chorar o seu falecimento, aos 92 anos, em São Paulo. Não dá para associar a palavra morte a uma personalidade sempre tão presente no imaginário coletivo de todos nós.

Não só graças à Odete, papel que a transformou em mito de nossa teledramaturgia, mas também pela Lourdes Mesquita, de Água Viva (1980), a Miss Brown, de Barriga de Aluguel (1990) e O Clone (2001) e a Celina, de Dancin´Days (1978), entre tantos personagens que desempenhou. Apesar de a consagração popular ter vindo pela TV, foi no teatro que Beatriz fez sua morada e onde se sentia mais em casa. Os espetáculos foram inúmeros, mas é impossível não lembrar marcos de nossos palcos, como Um Inimigo do Povo (1969), À Margem da Vida (1976), O Manifesto (1998) e Três Mulheres Altas (1995). Leonina, do dia 25 de julho, voluntariosa e dona de uma temperamento forte, ela hipnotizava a plateia simplesmente com sua presença. Era impossível tirar o foco dela, mesmo que no palco também estivesse outro baluarte da mesma arte, como Nathália Timberg, em Três Mulheres Altas, por exemplo.

O porte aristocrático intimidava e a voz inconfundível a tornava reconhecível até mesmo no mais profundo breu. E os olhos? Como definir o olha de Beatriz Segall, que parecia penetrar dentro de cada um de nós? Talvez apenas outras duas divas da tela grande, Elizabeth Taylor e Bette Davis pudessem rivalizar com o olhar de Segall. Curiosamente ela fez pouco cinema. Apenas dez filmes, nas sete décadas de carreira, desde que começou a estudar atuação, no final dos anos 1940.

Como a vilã das vilãs: Odete Roitman, de Vale Tudo

Carioca da Tijuca, bairro da zona Norte do Rio, ela seguiu à risca os costumes impostos às mocinhas da época: aprendeu francês, piano e costura. E chegou a dar aulas de francês, em 1946, enquanto também fazia aulas de interpretação, sua verdadeira paixão, escondida dos pais, já que a profissão de atriz não era nada bem vista na sociedade vigente. Mas um dia surpreendeu sua família ao decidir estudar teatro em Paris. Ela havia conquistado uma bolsa de estudos e não iria desperdiçar a oportunidade. Na Cidade Luz, trabalhou com Henriette Morineau e conheceu Maurício Segall, filho do pintor Lasar Segall e da tradutora Jenny Klabin, por quem se apaixonou perdidamente. Com ele se casou em 1954, teve três filhos: o diretor de cinema Sérgio Toledo Segall, o arquiteto Mário e o professor e Paulo. De volta ao Brasil, foi morar em São Paulo e, por causa da família, diminui o ritmo de sua carreira. Mesmo assim entrou para o cast da extinta TV Tupi, fazendo participações em novelas e programas como Pollyana (1956), Lever no Espaço (1957), Grande Teatro Tupi (1958) e Pollyana Moça (1958). Apenas em 1964, Beatriz decidiu retomar o rumo de sua arte e nada no mundo a faria abandonar seus sonhos novamente.

Com Fábio Jr. em Água Viva: a atriz se especailizou em mães possessivas

De volta à ativa, vinculou-se ao Teatro de Area e, depois, ao Oficina, de José Celso Martinez Corrêa. Desenvolveu a partir daí uma carreira ascendente nos palcos e na tela. De volta à TV Tupi, atuou em Angústia de Amar (1966), passou pela Record para participar de Ana (1968) e retornou à Tupi para viver a Clementia, em A Gordinha (1970). Nos anos seguintes, preferiu se dedicar ao teatro e investir no cinema. Atuou em filmes importantes, como À Flor da Pele (1976), O Cortiço (1978) e Diário da Província (1978). Nesse mesmo ano debutou na Rede Globo como a sofisticada Celina de Souza Prado, em Dancin' Days. Era a mãe do protagonista, Cacá (Antonio Fagundes) e, apesar de não ser má pessoa, não aceitava a relação do filho com a ex-presidiária Júlia Matos (Sonia Braga). Pronto! Foi estabelecida a história de amor do público por Beatriz Segall, que só cresceu em outras obras clássicas de nossa teledramaturgia, como Pai Herói (1979), Água Viva (1980), a passagem pela Band, em Os Adolescentes (1981) e Ninho da Serpente (1982); a volta à Globo em Sol de Verão (1983) e‘Champanhe (1983) e, principalmente, no fenômeno Vale Tudo. A partir daí a sombra de Odete Roitman estaria marcada para sempre na atriz. Por conta disso, ela aceitou o convite de Glória Perez para viver a Alzira, em Carmem (1987), mulher muito humilde e diferente de tudo o que o público já a havia visto fazer na TV. Mas não adiantou! Odete continuava viva e pulsante!

Na pele da Yolanda, protagonista do episódio O Assalto, da série Os Experientes, do Fantástico: despedida

Vieram então outras boas performances, mais uma vez na Globo, em A, E, I, O... Urca (1990), Barriga de Aluguel (1990), Sonho Meu (1993), Anjo Mau (1997) e Esperança (2002). Mas o espectador continuava ávido para ver Odete Roitman renascer e tudo o que Beatriz queria era seguir seu caminho sem a vilã. Após a passagem pela Record, em ‘Prova de Amor’ e Bicho do Mato, ambas de 2006, surgiram apenas participações especiais, na série Lara Com Z (2011) e Lado a Lado (2012). Seu derradeiro trabalho na televisão foi como Yolanda, a protagonista do episodio O Assalto, do quadro Os Experientes, do Fantástico, exibido em 10 de abril de 2015. Foi uma pequena, mas poderosa despedida para essa estrela que jamais se apagará. No Céu, espera-se que Beatriz Segall não tenho que se deparar, mais uma vez, com a pergunta que ela não suportava mais escutar, principalmente agora que ‘Vale Tudo’ está sendo reprisada pelo Canal Viva: Quem matou Odete Roitman?. “Detesto! Por causa do número de vezes que já ouvi. Se recebesse 1 real a cada vez que escutasse isso, estaria milionária”, gargalhava toda vez que alguém tocava no assunto. Siga em paz!

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