O Caso Evandro: série é uma das melhores produções do Globoplay - Reprodução/TV Globo
CRÍTICA

O Caso Evandro: crime sem resposta expõe a dor de famílias destruídas pelo mau funcionamento das instituições

Resultado de trabalho de investigação revelador, seriado ilustra podcast e faz excelente trabalho de síntese

Gustavo Assumpção Publicado em 08/06/2021, às 16h51

Quem acompanhou cada um dos episódios do seriado O Caso Evandro no Globoplay teve as expectativas retorcidas a cada semana. Baseado em um longo e exaustivo (mas extremamente completo) podcast idealizado por Ivan Mizanzuk, a produção original da plataforma do Grupo Globo faz um esforço de síntese louvável e consegue propor uma discussão profunda sobre o crime que chocou o Brasil no início dos anos 90 - e também sobre a importância de fortalecermos nossas instituições.

A série investiga as várias questões envolvidas na investigação da morte do menino Evandro Ramos Caetano em Guaratuba, litoral do Paraná, em 1992. Após uma disputa de versões entre a Polícia Civil e a Polícia Militar, sete pessoas foram à júri acusadas de assassinar o menino em um ritual brutal de magia negra. 

A cada novo episódio, a produção dirigida por Aly Muritiba e Michelle Chevrand expõe que há algo de muito estranho por trás das investigações: afinal, o crime foi mesmo cometido a mando de Celina e Beatriz Abagge, mãe e filha do então prefeito da cidade, Aldo Abagge? O grupo em torno do pai de santo Osvaldo Marcineiro foi mesmo o responsável pelo sacrífico da criança em um ritual que buscava “abrir os caminhos” da família que tentava aumentar sua influência política na região?

O que parece uma mera investigação sobre a descoberta dos culpados de um crime brutal se transforma em uma reflexão sobre as falhas de nossas instituições: a busca por justiça incentivada pela irresponsabilidade da imprensa policial, os métodos inaceitáveis de investigação ainda presentes nos porões da Polícia Militar e o drama vivido por aqueles que seguem em busca de respostas. Afinal, quem matou Evandro Ramos Caetano? E por quê?

“Tentei ser o mais respeitoso possível. Infelizmente, quando um crime acontece, ele se torna uma história da sociedade. Falar de crime é lidar com a dor dos outros e abrir feridas. Tudo que produzi até hoje serve para entender local, contexto e sistema. ‘O Caso Evandro’ é um grande ensinamento sobre como é o nosso sistema criminal”, diz Ivan Mizanzuk ao avaliar o trabalho realizado na produção.

Misturando um intenso trabalho de arquivo com dramatizações muito bem conduzidas, a série vai além do mero retrato documental. Quando filma as reações de cada um dos envolvidos ao ouvir as fitas inéditas descobertas durante a pesquisa, surge um momento do qual é impossível sair ileso. Quando ouve especialistas que contextualizam a presença da intolerância religiosa e a falta de repúdio à prática da tortura, a série coloca sobre a mesa um país que não esconde seu apreço pelo autoritarismo.

A grande qualidade da série (dividida em sete episódios, mais o extra ‘O Caso Leandro’, sobre outra criança desaparecida que se correlaciona com a história de Evandro) está em conseguir humanizar os envolvidos nessa tragédia que é de cada um dos envolvidos, mas também é partilhada conosco, enquanto cidadãos. Como pode um crime desse porte ter um desfecho a base de tamanha crueldade? Qual é o limite na sanha por justiça? Evitar que essa história se repita é missão civilizatória.  

O CASO EVANDRO 

Série original Globoplay - 7 episódios (+1 episódio extra)

Cotação: Excelente

fotos crítica Globoplay série Imagens documentário O Caso Evandro

Leia também

Paraíso Tropical faz lembrar como é sentir 'frio na barriga' com clichês de um 'novelão'


Wanessa Camargo tentou ofuscar Davi com lançamento de música na final do BBB 24?


No Rancho Fundo usa fórmula clássica das seis para situar público...e 'tá tudo bem'!


Camila Moura, ex-esposa de Buda, do BBB 24, passa do ponto e nos faz refletir: Será que vale tudo por dinheiro?


Circo do Tiru registra audiência tímida para o SBT, mas garante a diversão da família com espontaneidade e a inocência do humor


A Praça É Nossa dribla o tempo e segue firme sem perder a segunda colocação em 2024; o que está por trás desse sucesso?