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Silvero Pereira não se define - "Não me sinto à vontade"

No ar como Nonato e Elis Miranda em A Força do Querer, Silvero Pereira transita pelo masculino e feminino sem se importar com rótulos. Em sua primeira novela, ator quer cada vez mais dar visibilidade à causa LGBT

Por Ligia Andrade Publicado em 22/09/2017, às 20h00 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

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Silvero Pereira está no ar como Nonato e Elis Miranda em A Força do Querer - Fotos: Caique Cunha
Silvero Pereira está no ar como Nonato e Elis Miranda em A Força do Querer - Fotos: Caique Cunha
Silvero Pereira, 35 anos, chegou apavorado aos Estúdios Globo. Acostumado a criar seus próprios espetáculos, era a hora de encarar a sua primeira novela. “Mas fui muito bem-recebido e logo sendo apresentado ao Humberto (Martins, 56), que me ensina diariamente. Mexeu ainda mais porque era uma cena de contratação”, recorda o intérprete do motorista Nonato e da travesti Elis Miranda. “A abordagem do trabalho é carinhosa, foi me conquistando. E tem a importância social. A maioria das pessoas torce pela personagem, entende o meu trabalho artístico.” Natural de Mombaça, no Ceará, Silvero começou na carreira artística aos 17 anos, no teatro, até fundar o Coletivo Artístico As Travestidas. Morando em Fortaleza e casado há nove anos com um dramaturgo, o ator tem amadurecido a ideia de se mudar para o Rio de Janeiro. Vaidoso, não sai de casa sem maquiagem e sonha em interpretar um machão na TV. 

Impactante “A cena do espancamento foi marcante. Encontrei na Mariana Xavier (37, que vive Abigail) uma parceira de cena, viramos amigos. E comecei a contracenar com a Lilia (Cabral, 60), que é um furacão em cena. Estar diante de sua diva, da pessoa que você foi fã a vida inteira... Fiquei emocionado com a generosidade dela.”

Uma inspiração “Escuto isso o tempo inteiro. Quando estão vendo a minha denúncia, sou um representante. Dizem que a discussão sobre travestis e transexuais ficou mais natural na escola, puxada pelos alunos.”

Não pode faltar o adereço da cabeça, marca registrada da cantora

O início “Na faculdade de Artes Cênicas, comecei a ver o teatro como ambiente de transformação social. E fui entendendo que, por mais que fosse permissivo, ainda era preconceituoso. Isso me provocou uma angústia, fui me envolvendo com as histórias. Desde 2002, tenho feito trabalhos para trazer esta discussão. (A peça) Uma Flor de Dama gerou o coletivo As Travestidas.”

Aos poucos “Fui me entendendo dentro desses discursos na prática. Passei por dificuldade de ver onde me identificava, a minha identidade de gênero e sexual.” 

Sem definições “Depois de ter passado por esses conceitos, estudado, realmente me sinto à vontade em não me definir. Gosto da minha identidade de apenas ser feliz. Depois de tudo que passei na infância – se devo ser hetero ou homossexual –, na adolescência – se sou homossexual, travesti –, depois, se sou travesti ou transexual, sem me compreender direito, não vejo esta necessidade de me assumir, apenas agir e ser.”
Sem preconceitos “Temos de pensar em uma sociedade que seja mais livre neste aspecto. Para tomar decisões, precisa-se conhecer. É daí que surge o preconceito. Os heterossexuais não vão se sentir ofendidos a partir do momento que eles entendam cada espaço e a liberdade deles.”

Fazendo dieta, Silvero não pode comer bolo de chocolate ou ter um café da manhã farto... “Adoro tudo isso”, confessa

Lado a lado“Tenho orgulho de estar no lado da Gloria (Perez, 68, autora) neste processo. A obra de arte não dá conta do todo, consegue abrir espaço, mas ainda não é suficiente. Na vida real, é mais complicado.”

Preconceito existe, sim! “Sofri o tempo inteiro, a sociedade é preconceituosa, em todas as áreas. O fato de ser nordestino, de uma classe social pobre, de ter uma orientação sexual e uma identidade de gênero diferentes... É importante aprender a não pensar desta forma.” 

Em casa “Tudo foi muito normal. O que aconteceu é que meus pais compreenderam que a identidade de gênero ou sexual de alguém não muda o caráter. O filho deles continuou a ser como ensinaram: íntegro, honesto e batalhador. Minha família me tem como herói, como alguém que venceu na vida, um espelho.”

“Traveco? “As coisas são um xingamento quando a gente permite. Não tenho questões, tenho orgulho disso tudo e quero que outras pessoas também se sintam assim e saiam do armário para mostrar à sociedade que somos um grupo grande e que nós merecemos respeito e visibilidade.”

Em cena de A Força do Querer, travestido de Elis Miranda

Não é hora de ser pai “Tenho vontade de ter um filho, mas ainda não me sinto preparado para isso. Preciso de um tempo maior, para dar atenção. Adotei uma cachorrinha, um gato... Digamos que tem sido uma preparação.”

Super vaidoso “Não saio sem maquiagem, estou sempre preocupado com roupas, acessórios. Gosto da minha casa com flores, espalho rosas vermelhas pela casa inteira, arrumada, limpa. Sou meticuloso.”

Super vaidoso 2 “Estou sempre preocupado em manter a forma. É café e uma tapioca, quando não é batata-doce com ovo no café da manhã. Adoro exercícios aeróbios, gosto de dançar, fazer jump, correr...”  

Imaginação à solta “Comecei a trabalhar cedo em um supermercado, só agora dentro da arte pude viver um pouco da minha infância perdida. Realmente me sinto uma criança quando estou interpretando, deixo a imaginação fluir. Agora enveredei para cantar, tenho feito shows, tenho interesse em ser apresentador...” 

Clima de romance “Estou bem apaixonado pela televisão, feliz. Meu grande desejo de fato é sair um pouco deste eixo dessas personagens, tentar fazer coisas diferentes. Quero fazer machão, traficante, enfim, mostrar meu potencial. Que eu consiga ser enxergado como ator de outros aspectos, mostrar que tenho outras facetas.”