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'MasterChef': como foi ser participante por um dia do reality culinário da Band

Cozinhamos e fomos avaliados pelos jurados do 'MasterChef' - e não é nada fácil

Leandro Fernandes Publicado em 20/03/2019, às 11h01 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h46

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MasterChef - Divulgação/Band
MasterChef - Divulgação/Band

Olhar o que acontece no MasterChef de fora não reflete de maneira alguma o que é de fato o programa.

Coletivas de imprensa normalmente têm um formato bem quadrado: os jornalistas são reunidos, aqueles que vão responder às perguntas aparecem, se sentam e respondem perguntas por um tempo pré-definido. Na sexta-feira (15), me fizeram uma pergunta na redação da CONTIGO!: "você sabe cozinhar?". A resposta é mais complexa do que é necessário entrar aqui ou cabia na hora, mas eu sempre resumo com um sinal de mais ou menos. "É que vai ter uma vivência no MasterChef e é para os repórteres e jornalistas cozinharem". Demorei alguns minutos para admitir que eu queria, mas no fim aceitei.

A Band nos recebeu, esperamos até todos os participantes chegarem - e todos estavam tão nervosos quanto eu, quase ninguém tinha realmente noção de cozinha suficiente para cozinhar algo de surpresa. A emissora nos apresentou a cozinha do programa, que é surpreendentemente bem parecida com o que vemos na TV, apesar do mezanino ser um pouco menor do que eu esperava. A visão lá de cima é bem privilegiada. O mercado também é super organizado, e eu, na minha inocência, tentei memorizar onde ficavam as coisas lá dentro para o caso de precisarmos usar. Só depois eu percebi as caixas misteriosas dispostas sobre cada bancada - 10 ao todo.

Nos organizamos numa fileira e assistimos a alguns vídeos relacionados à nova temporada: o primeiro mostrava o impacto do programa na vida dos brasileiros ao longo dos últimos cinco anos, tanto na questão da influência da culinária, quanto numa ação de caridade que levou comida e os jurados Henrique Fogaça, Paola Carosella e Erick Jacquin para cozinhar num instituto para pessoas com Síndrome de Down. O segundo apresentava o MasterChef: Para Tudo, programa derivado que vai entrar nas noites de terça, já que o reality em si vai para os domingos. O vídeo mostrava um pouco da dinâmica, com os jurados lendo comentários de redes sociais a respeito deles ou do programa, cenas de bastidores e, enfim, tudo que não cabe durante o MasterChef.

Enfim, chegou a hora e entraram a apresentadora Ana Paula Padrão e os jurados. Cabem dois comentários aqui: Paola Carosella é uma mulher super alta que não tem medo de ficar ainda mais alta usando saltos. Ela tem uma presença impactante e surpreendentemente muito pouco intimidadora - embora seja impossível não se sentir uma criança ao falar com os três. O outro comentário é que eu não esperava que Ana Paula Padrão fosse uma presença tão forte no estúdio. Ela não é uma simples apresentadora: ela de fato age como uma porta-voz do programa e em vários momentos ficou claro o poder dela dentro do MasterChef. Além disso, a diretora dessa temporada é Marisa Mestiço, que já atuava no programa desde a primeira temporada, mas agora assumiu a direção. Tínhamos, então, três grandes presenças femininas no estúdio.

Antes de cozinhar, Ana nos apresentou um teaser da décima temporada do MasterChef e explicou o conceito: será uma celebração do programa, com vários elementos revisitados (ingredientes e desafios, por exemplo), mas de maneira um pouco diferente. No teaser ficou bem destacado a dificuldade de ser avaliado pelos jurados, que detonam vários candidatos. Algumas coisas ali se eu ouvisse sinceramente ficaria super chateado, então isso aumentou a tensão. Os participantes dessa temporada terão também um daqueles desafios monstruosos: cozinhar para 400 mulheres num clássico do futebol, Santos e Corinthians, só que numa partida de futebol feminino. O vídeo termina com uma gritaria na cozinha e uma moça vomitando. 

Bom, chegou a hora enfim. Ana explicou a prova. Era de fato uma caixa misteriosa e só teríamos os ingredientes ali dentro para fazer algo. Ela sorteou duplas e nos posicionamos nas bancadas. Vestimos os aventais. Eu estava torcendo para ser algo realmente simples ou algo que eu já soubesse fazer, mas dei azar. Quando abrimos a caixa, percebi de cara um pedaço de bacon, seis ovos, tomate, queijo e alguns temperos. Na hora eu disse "é omelete". E eu não como ovos, nunca havia cozinhado ovos de nenhuma maneira. O chef Jacquin nos mostrou como fazer a chamada omelete francesa, bastante diferente da brasileira, já que exige que o interior fique cremoso e o exterior só levemente solidificado. Ele brincou: "eu já passei vergonha fazendo omelete, espero que não passe hoje de novo". Não passou. Depois de ver ele fazer, eu estava razoavelmente seguro de que conseguiria.

Tentei ser organizado junto com a minha parceira: nós fomos calmamente pegar uma frigideira e um bowl, nos dividimos no trabalho (consegui quebrar os ovos sem deixar casca cair junto, um primeiro sucesso) e decidimos colocar queijo parmesão e presunto fresco na omelete. Eu havia memorizado a quantidade de sal e pimenta que Jacquin tinha usado e imitei - mas minha parceira percebeu que era pouco sal e adicionou. Os chefs passaram mais ou menos nesse momento e eu perguntei se estávamos no caminho certo. Confirmação de Fogaça. Ufa.

O alívio não durou muito - tínhamos ingredientes para fazer duas vezes, uma de teste e uma definitiva. Fizemos o teste e foi um desastre - viraram ovos mexidos. O sabor estava ótimo, o que me tranquilizou, mas não era o que tinha sido pedido. Nesse ponto estávamos na metade do limite de tempo de trinta minutos. Decidimos fazer o segundo com um pouco mais de atenção e tomando cuidado para não esquentar demais a frigideira. Nesse meio-tempo, Paola passou pela bancada e disse que o primeiro "não passaria". Medo. Bom, fizemos e colocamos na frigideira, mas o cooktop de indução (ele só esquenta quando a panela está em contato) é difícil de mexer, então tivemos de mudar de boca e a frigideira esfriou um pouco. O ovo não estava tomando forma, e começava novamente a se parecer com ovos mexidos. Minha parceira bravamente tentou montá-lo de maneira a se assemelhar à omelete francesa que foi pedida e colocamos num prato. Ela decorou com cebolinha (eu queria colocar um pouco num padrão bonitinho, mas decidimos deixar mais simples). Parecia um mapa de um país. Olhando ao redor, vários outros participantes tinham feito omeletes bonitas, com certa altura e acompanhamentos. Já aceitei a humilhação e fiquei rindo na bancada.

O momento de apresentar os pratos era também o momento para perguntas, agora num formato mais parecido com uma coletiva. Ana comentou sobre a transição entre jornalismo e entretenimento: "Eu demorei umas três temporadas para entender que eu podia ser aqui o que eu era antes." Ela também aproveitou para falar sobre a mudança de horário: "Domingo é um dia especial na TV aberta do Brasil. Mas realmente acho que a gente tem maturidade, musculatura, tempo e plateia pra tentar esse movimento agora. Dá medo? Dá. Dá frio na barriga? Dá. Mas eu sou dessas que acha que movimento gera movimento."

Para Paola, a questão do machismo não foi algo que a acompanhou durante a carreira: "Eu não lidei com machismo na cozinha, nunca. Pode ser que tenham acontecido atitudes machistas do meu lado, mas eu não estava olhando como machismo." Ela explicou melhor: "Agora estamos falando tanto disso que a gente fica mais antenado, você já consegue colocar alguns comentários, expressões do cotidiano: 'esse cara está sendo machista'." Ela deixou claro que não se incomoda com ataques nas redes sociais. "Nada me incomoda menos do que um babaca na internet".

Chegou a nossa vez. Eu já apresentei o prato rindo e falei "é um ovo mexido". Explicamos como tínhamos feito e Paola perguntou se aprendemos algo hoje. A resposta, obviamente, é sim. Não diria que eu aprendi a fazer omelete, mas aprendi outras coisas. Bom, eles provaram aquele ovo feinho e me surpreendi com os comentários. Fogaça disse que o sabor estava ótimo, Jacquin elogiou a escolha de ingredientes e eles concordaram que a apresentação estava horrível (era uma referência geográfica, poxa), mas o sabor compensava. Fogaça também deu um dica: para ficar com o meio mais cremoso, tinha que ter ficado menos tempo na frigideira. Anotei mentalmente, embora duvide que eu faça outra omelete na vida. Mais que isso: fui elogiado pelos jurados do MasterChef: isso vai pro currículo.

Aproveitei para perguntar aos chefs se eles acham que o MasterChef é mais difícil, mais fácil ou na mesma medida que o mundo das cozinhas de restaurante. Os três foram unânimes: são ambientes muito diferentes. "No restaurante tem uma responsabilidade diferente, é muito maior, a pressão é verdadeira", disse Fogaça. "Quando um restaurante funciona bem, pode ser que tenha correria, tensão, pode ser que o trabalho seja tenso, mas com muito foco. Mas não tem gritaria. A gritaria acontece quando nada funciona." Ela completa: "Quando o restaurante funciona, é como uma orquestra".

Outra pergunta bastante interessante foi a respeito do envolvimento dos jurados com os participantes. Descobrimos que eles não têm contato fora da prova. Foi Ana que esclareceu: "Muitas vezes os chefs ficam sabendo que histórias são essas [as dos participantes] quando o programa vai ao ar". Ela diz que "o objetivo é distanciá-los das pessoas e aproximá-los dos cozinheiros". Paola fez um comentário: "Tem vezes que quando o programa vai ar, eu penso 'nossa, esse cara é um mala, era tão fofinho na minha frente!'".

Terminada a experiência, levei duas coisas: a primeira é que o tempo passa muito rápido no MasterChef. E tempo passando rápido na cozinha é uma baita dificuldade, então eu imagino que em pratos mais complexos seja um verdadeiro drama - daí casos de participantes que se desesperam em provas aparentemente simples. A outra coisa foi uma vontade enorme de aprender mais sobre culinária - e de fato adicionei à minha lista de objetivos a curto prazo fazer um curso. Não que eu gostaria de voltar à cozinha como participante - a experiência foi ótima e divertida, mas eu não encararia novamente de maneira alguma.

A décima temporada de MasterChef estreia neste domingo (24) às 20h, na Band.