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Diretor da TV Globo solta comunicado após aposentadoria de Sérgio Chapelin

Em nota, direção da emissora revela dificuldades em substituir o profissional que pediu aposentadoria

Redação Contigo! Publicado em 09/08/2019, às 10h48 - Atualizado às 11h15

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Sérgio Chapelin - TV Globo
Sérgio Chapelin - TV Globo

Diretor de jornalismo da TV Globo Ali Kamel enviou para a imprensa na manhã desta sexta-feira (9) um comunicado em que se pronuncia sobre a aposentadoria de Sérgio Chapelin.

A partir das próximas semanas, ele deixa o Globo Repórter.

"Cinco anos atrás, Sérgio Chapelin me procurou. Era a época de renovação do contrato. Sempre gentilíssimo, ele me disse que acreditava que era hora de parar. Sérgio adora o que faz, tem uma relação de décadas com o público, com o jornalismo, mas queria mais tempo para a família, para aproveitar a vida sem tantas obrigações", disse ele.

Kamel contou que conseguiu conversar com o jornalista e o convenceu a estender o contrato por mais um tempo.

"Eu discordei, e o carinho dele pelo público e pelo jornalismo é de tal ordem, que ele acabou se convencendo a ficar mais cinco anos e a voltar a conversar sobre o assunto no futuro. Esse futuro chegou, ele me procurou algumas semanas atrás e a conversa se repetiu. Mesmo apaixonado pelo que faz, Sérgio ponderou que é parte da sabedoria encontrar o momento de desacelerar e aproveitar mais a vida, o tempo com a família", contou.

O chefão do jornalismo da emissora então relembrou a carreira repleta de conquistas do profissional.

"Conversar com Sérgio é sempre um prazer. Algo na natureza dele o faz ser o mesmo de quando começou na Globo, quase cinquenta atrás, um pioneiro: a vitalidade, a voz, a energia, o carisma são os mesmos (temperados pelos cabelos grisalhos). Com anos de diferença, eu e ele temos uma origem profissional comum, a Rádio Jornal do Brasil, e essa coincidência me alegra", disse.

Leia outros trechos do texto enviado por Ali Kamel:

Quem o trouxe para a Globo foi Dirceu Rabelo, a “voz” da Globo ainda hoje. Dirceu o chamou para um teste em 1972. Ele veio em roupas esportivas, o cabelo longo e se pôs à prova diante de nossa querida Alice-Maria e do editor Silvio Júlio. Foi aprovado, mas teve de voltar no dia seguinte com uma orientação expressa de Alice: “Venha com terno e gravata porque o Armando Nogueira vai ver tudo”. 

Armando adorou e Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), também. Boni o queria logo no Jornal Nacional, mas Armando precisava dele no Jornal Hoje, para substituir Ronaldo Rosas. Sérgio dividiria a apresentação com Sônia Maria e com Márcia Mendes. “E também com dois comentaristas muito jovens, Nelson Motta e Scarlet Moon”, Sérgio me contou, sorrindo, mas logo lamentando a morte precoce de Marcia e Scarlet. Ficou no Hoje apenas um mês, porém. O sucesso foi tão grande que quando o saudoso Hilton Gomes deixou o Jornal Nacional, Sérgio foi o escalado para fazer dupla com Cid Moreira, e essa dupla marcaria para sempre a história da Globo. Sérgio participou também da estreia do Fantástico, em 1973, sem deixar o Jornal Nacional, e foi o primeiro apresentador do Globo Repórter. Eu disse a ele que isso era um feito, mas Sérgio, sem nunca abandonar seu jeito simples, me disse: “É um orgulho, claro, mas naquela época, eu apresentava o Jornal Nacional, o Fantástico e o Globo Repórter, não tinha moleza, mas era tudo um grande prazer”. 

Em 1974, o grande Heron Domingues, que apresentava no fim da noite o Jornal Internacional, teve um enfarte fulminante que o matou tão cedo. Foi logo depois de divulgar aos brasileiros uma informação de repercussão mundial: a renúncia do presidente Nixon, o ápice do escândalo Watergate. Foi uma edição marcante. O satélite abriu antes do início discurso do presidente. Não estava no ar nas emissoras, somente em circuito fechado para quem tinha acesso ao sinal da Casa Branca. Nixon começou a brincar em frente à tela, fez caretas e sorriu. Armando Nogueira, com o jornal no ar, disse a Jorge Pontual, redator do telejornal, para usar as imagens e escrever um "boa Noite" com base nelas. Pontual correu para escrever a tempo o texto, que finalizava assim: “Como um ator antes da novela, como um político que fez sua carreira dominando a televisão e às vezes sendo vencido por ela, Richard Milhous Nixon se despediu do cargo mais visado da terra com um sorriso". Pontual se agachou por debaixo da mesa de Heron e entregou o papel com o texto. E Heron leu a nota, com aquelas imagens exclusivas (Pontual viria a ser por muitos anos diretor do Globo Repórter e, hoje, é correspondente em Nova York). Era o dia nove de agosto de 1974, e, na noite seguinte, lá estava Sérgio substituindo o amigo morto na véspera. Ficou na função por nove meses, quando o Jornal Amanhã foi criado, com apresentação de Carlos Campbell e Marcia Mendes. Voltou para o Jornal Nacional, onde ficou até 1983, ao lado de Cid, apresentando também eventualmente o Fantástico, Globo Repórter e a primeira versão do Jornal da Globo.

Ficou um ano no SBT, mas logo voltou, a pedido de Boni e de Armando. Foi para o Fantástico até 1989, sozinho ou dividindo a apresentação com Valéria Monteiro e Bonner. Mas, em 1985, apresentou, sozinho, uma das edições mais marcantes do Jornal Nacional. E num domingo. Foi o JN especial sobre a morte do presidente-eleito Tancredo Neves, depois de 37 dias de internação e muitas cirurgias. O Fantástico foi interrompido bruscamente, no meio de uma reportagem, para que o repórter Carlos Tramontina, hoje apresentador do SP2, anunciasse que o secretário de imprensa de Tancredo, Antônio Britto, faria o pronunciamento que ficou gravado na memória de todos: “Lamento informar que o excelentíssimo senhor presidente da República, Tancredo Neves, faleceu esta noite, no Instituto do Coração, às dez horas e vinte e três minutos”. Logo depois de uma rodada de repórteres, já no cenário do JN, Sérgio, emocionado, disse para aqueles que ligavam a televisão naquele momento: “O presidente Tancredo Neves está morto, como acaba de anunciar o secretário de imprensa, Antônio Britto”. Mudou de câmera e leu, com o tom certo que fez dele um mestre, o editorial que visava a homenagear Tancredo e consolar o país, tomado por comoção. O início dizia assim: “Nessa hora de profunda tristeza, o Brasil se sente mais só. Todos nós brasileiros estamos sofrendo muito. O presidente nos deixa, entre lágrimas e saudades, a certeza de que haveremos de viver uma Nova República”. E, por horas, ancorou aquela cobertura histórica.

Em 1989, voltaria a se dedicar exclusivamente à apresentação do Jornal Nacional ao lado de Cid até 1996, quando passou a ser o titular do Globo Repórter. São 23 anos comandando o programa, campeão absoluto de audiência, num longo convívio com a genial Silvia Sayão, diretora do programa durante todo esse período (e por muitos mais).

Ano após ano, são inúmeros os episódios marcantes da carreira de Sérgio (caberiam em mais de um livro). Se escolhi esses para citar é porque brotaram na  conversa que tivemos (na memória dele e na minha, como espectador e admirador). Olhando para tudo o que Sérgio fez, para o seu pioneirismo (quem mais pode dizer que estava na estreia de dois fenômenos como o Fantástico e Globo Repórter?), para a sua imensa contribuição ao nosso jornalismo, foi impossível não me render aos argumentos dele. Como dizer não ao desejo de se dedicar mais à família e à vida, tendo ele sido esse gigante para a Globo? Confesso que fiquei emocionado, na terça, durante a nossa conversa de arremate. Mas disse a ele que sim. Sérgio deixará o Globo Repórter no fim de setembro. Mas não deixará a Globo. Como Cid Moreira, continuará ligado à emissora que a ele é tão grata. Tenho certeza de que falo por todos nós, seus colegas, quando, em nome da TV Globo, agradeço seu trabalho magistral. Sérgio, muito, muito obrigado. Sua contribuição ao nosso jornalismo é imensurável.

Como substituir alguém como Sérgio Chapelin? Com duas das mais completas e consagradas jornalistas da televisão brasileira, Glória Maria e Sandra Annenberg. Conversei com elas e fiquei imensamente feliz ao perceber o entusiasmo delas diante do novo desafio, tanto Sandra como Glória. O Globo Repórter, eu sei, empolga todos nós jornalistas, porque é um programa vitorioso, de altíssimo nível.