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TV / LUTO

Após uma vida forjada com carinho e afeto, Nicette Bruno parte deixando falta que não será preenchida

Sentimento após a morte da atriz é que perdemos algo que nunca mais será reposto

Gustavo Assumpção Publicado em 20/12/2020, às 15h05 - Atualizado às 15h08

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Nicette Bruno construiu lugar de afeto - TV Globo
Nicette Bruno construiu lugar de afeto - TV Globo

Há alguns artistas que estão presentes em nosso imaginário com tamanha força que parecem forjar uma relação íntima, profunda, de sangue.

Nicette Bruno está nesse hall de estrelas cujo ofício sempre sincero e dedicado produz tamanho afeto que é capaz de nos transportar para um espaço confortável do qual não queremos sair.

Sua partida aos 87 anos marca não apenas a morte de uma grande artesã da atuação, mas também a partida de algo familiar e próximo, doce e meigo.

Embora tenha atuado em incontáveis novelas, foi no teatro que o talento da atriz se fez mais evidente. Interpretando de Nelson Rodrigues a Antônio Callado, passando por Oscar Wilde e Paul Zindel - sua interpretação em 'Efeito dos raios gama nas margaridas do campo' (1973) é considerada fundamental -, a atriz foi elemento fundador de toda uma geração. Nos anos 60, ela e o marido, o seu Paulo Goulart, chegaram a lecionar para novos atores no Curso Permanente de Teatro no Teatro Guaíra, em Curitiba, então um dos espaços mais relevantes da cena teatral brasileira.

Do sonho da própria companhia às montagens dirigidas pelo marido e ao lado dos filhos, todos exímios no ofício da atuação, a atriz construiu ao seu redor uma grife. Todos queriam ver e atuar com Nicette, todos se sentiam parte da família Goulart.

Na TV, um ícone

Na teledramaturgia,viveu personagens icônicos desde a estreia na TV Globo em ‘Sétimo Sentido’ (1982), de Janete Clair. Vieram também trabalhos de destaque, entre eles a poderosa Joana, de ‘Tenda dos Milagres’ (1985) e a forte Julieta Sampaio, de ‘Mulheres de Areia’ (1993). Entre os trabalhos menos lembrados, mas igualmente inesquecíveis, estão as divertidas Fanny Marlene de 'Selva de Pedra' (1986) e Vivian Bergman de 'Perigosas Peruas' (1992). Seja na comédia, seja no drama, seja interpretando personagens sérios ou verdadeiros pastiches, a atriz se destacava. Era impossível não prestar atenção em Nicette Bruno.

Mas, foi sobretudo a partir dos anos 2000, já na maturidade, que ela aceitou o desafio para dar voz, corpo e sentimento para a Dona Benta na nova montagem de 'O Sítio do Pica-pau Amarelo' (2001). Nos quatro anos em que viveu a personagem de Monteiro Lobato, a atriz se tornou conhecida por toda uma nova geração e soube dar ao papel a dose exata de doçura e delicadeza, potencializando a relação muito próxima com o público que sempre cultivou.

Sempre afetuosa, a atriz ainda emendou outros trabalhos marcantes, como as inesquecíveis Ofélia, 'Alma Gêmea' (2005) e Iná 'A Vida da Gente' (2011), talvez uma das melhores atuações de sua trajetória na TV. Sua última novela acabou sendo 'Éramos Seis' (2020) quando foi convidada para uma participação especial. O que seria um até logo acabou marcado como a derradeira despedida, tragédia insuperável de um ano em que um vírus misterioso e atroz nos levaria um pilar de nosso modo de criar.

Ao lembrarmos da partida de Nicette Bruno automaticamente sentimos uma melancolia rara, um sentimento de que perdemos algo que nunca mais será reposto. Há seis anos quando perdeu Paulo Goulart, a atriz entregou em uma entrevista rara qual foi o último pedido que o então companheiro a fez já às vésperas de partir. "Viva muito, trabalhe como você gosta e não perca sua alegria", disse na época. E ela cumpriu a promessa.