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Jorge Brasil / Exclusivo!

Pedro Vinícius: ''Não sei o que me aguarda no futuro e nem na próxima esquina''

O intérprete do Michael, de Malhação: Vidas Brasileiras, comemora o primeiro beijo gay entre rapazes na novela e fala sobre preconceito e violência contra os homossexuais

Jorge Luiz Brasil Publicado em 05/10/2018, às 14h11 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h46

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Pedro Vinícius: ''Não sei o que me aguarda no futuro e nem na próxima esquina'' - Reprodução/ TV Globo
Pedro Vinícius: ''Não sei o que me aguarda no futuro e nem na próxima esquina'' - Reprodução/ TV Globo

Durante boa parte dos 151 capítulos da atual temporada de Malhação, Michael foi um personagem discreto. Exuberante em sua essência, marcante enquanto representatividade de uma “minoria”, mas ali quietinho esperando sua quinzena como protagonista. Ela chegou com tudo e termina hoje como uma das melhores de Malhação: Vidas Brasileiras. A delicada história de amor de Michael e Santiago (Giovanni Dopico) foi brilhantemente construída pela autora, Patricia Moretzhon, pela diretora Natalia Grimberg e pela dupla de atores tão talentosa. Intérprete de Michael, o paraibano Pedro Vinícius deixa sua marca na dramaturgia nacional com um personagem difícil, que poderia ser caricato, mas foi apenas humano em sua personalidade exagerada. O beijo gay do casal não foi o primeiro na novela jovem. Em Malhação – Viva a Diferença (2017), Lica (Manoela Aliperti) beijo K1 (Talita Younan) e, depois a namorada, Samantha (Giovanna Grigio). Mas foi o primeiro entre rapazes e dividiu a internet: celebrado por muitos, criticado pelos conservadores de plantão. Mas Pedro Vinícius comemorou em seu Instagram (@pedroviniciusmb). “Finalmente chegou! Tão importante mostrar isso e eu só tenho a agradecer. Obrigado a todos os evolvidos, obrigado @natigrim @pati_moretzsohn e toda a essa equipe incrível. Essa quinzena não poderia ter terminado de uma maneira mais incrível. Um grandíssimo beijo.” Conheça mais sobre o libriano, que completa 19 anos no dia 21.

- Como foi sair de João Pessoa para viver no Rio de Janeiro?
Foi incrível. Desde muito criança eu já falava que queria sair de casa. Tinha planos de fazer isso na primeira oportunidade e não porque eu tinha algum problema em casa ou com a minha cidade natal, mas porque eu sempre quis fazer muitas coisas e temia ficar na minha zona de conforto por muito tempo. O que faria com que, mais tarde, eu me acomodasse, e eu tenho muito medo de me acomodar. Saí de casa em 2015 para fazer o ensino médio aqui no Rio. Vim estudar numa escola-residência (Escola SESC de Ensino Médio) e foi por que eu estudava aqui que fui chamado para fazer o teste para a novela. Nada é por acaso, as coisas acontecem por uma razão. Acredito muito nisso!

- Em algum momento bateu solidão?
Solidão é uma palavra muito forte. Eu já me senti sozinho e tive pensamentos como: “Nossa, eu estou realmente sozinho numa cidade desse tamanho!”, e tem vezes que é desesperador e vezes que é libertador, porque eu adoro estar por minha conta, mas também sinto saudade da minha família.

- Como é a relação com sua família?
É ótima. Minha família é muito pequena, eu não tenho um milhão e meio de tios, bisavós e tataravós. E por isso, somos muito próximos, procuramos nos apoiar uns nos outros pra que todo mundo fique bem. Sinto saudade de estar com elas.

- Qual foi o impacto de Malhação em sua vida?
Mudou minha vida totalmente. Se tornar uma pessoa pública é uma coisa muito louca porque todo mundo sabe quem é você mas você não sabe quem são aquelas pessoas, é uma sensação que eu ainda não me acostumei. Mas para muito além disso, o grande impacto desse trabalho em mim está sendo no âmbito da descoberta. Fazer esse trabalho está sendo uma oportunidade intensa de descobrir coisas em mim, que eu posso e consigo fazer.

- Michael é um personagem muito marcante. Você teme ficar estigmatizado por ele?
Não temo a estigmatização do personagem, acho um personagem muito bom e espero que as pessoas lembrem dele. Por outro lado, temo ser um ator de um “único” trabalho, de fazer sempre personagens muito parecidos e que não abram leque para outras possibilidades. Gosto de me arriscar e me desafiar, então é lógico que eu adoraria fazer personagens muito diferentes uns dos outros.

- Malhação está retratando todo tipo de percalços pelos quais passam as ditas “minorias”. Você acha que esse tipo de abordagem mais contundente pode ajudar a quebrar barreiras e diminuir o preconceito?

Com certeza. Eu não acredito no retrocesso, que as coisas avançam só por um pequeno período de tempo. Tudo o que avançamos nessa temporada deve ser um gancho para a próxima temporada começar de onde paramos. Lógico, que com situações diferentes, núcleos diferentes e etc. mas há coisas que não podem mais deixar de serem ditas e exibidas. Afinal, com o tempo, as pessoas vão aprender a naturalizar certas coisas, como atores e atrizes trans interpretando papéis que não necessariamente são de pessoas trans também, pessoas negras ocupando espaços de poder como protagonistas, casais e beijos de pessoas LGBTQ+, e isso tudo só acontecerá caso decidam continuar no caminho que estamos, em frente, sem retroceder.

- Michael está passando por situações muito dolorosas por conta de preconceito. Você já enfrentou algo assim?
Preconceito não é uma coisa nova na minha vida, tive que aprender a lidar com ele há certo tempo porque eu sabia que durante a minha vida inteira eu estaria sujeito a esse tipo de comportamento. Eu nunca passei por uma situação como a do Michael, de sofrer uma violência física e tão forte, pois o que me assolou durante a infância e parte da adolescência foi muito da violência psicológica e verbal. No entanto, apesar disso tudo e da condição que me encontro hoje, sei que a violência não é uma coisa que eu superei pelo resto da vida, não sei o que me aguarda no futuro nem na próxima esquina.

- Que tipo de dores reviver tudo isso te provoca?
Não me provoca dores minhas mais, porém, eu sinto muito as dores de tantas outras pessoas. No dia que a cena do banheiro foi ao ar, recebi muitas mensagens de adolescentes que falaram de situações tão parecidas com a que o Michael passou. Recebi também de mães que falavam do pânico de saber que o filho havia sido agredido, e que estava desacordado na escola, ou mesmo na rua. E para despertar isso nas pessoas, essa empatia e comoção, eu tive que me blindar contra a intolerância. Desde quando comecei a fazer o Michael, no início do ano, sabia que teria que me revestir e construir uma carapaça contra alguns comentários.

- Quem são suas referências como ator e ser humano?
Minhas referências são muito diversas e algumas são muito inconscientes. Tem artistas que eu admiro muito, e que me inspiro em muitos sentidos. Minhas referências mais contundentes na vida são de artistas que usaram sua arte para mudar a sua realidade, que marcaram sua geração de alguma forma e que acreditavam num mundo melhor. Artistas como Ney Matogrosso, Madonna, Fernanda Montenegro, Augusto Boal, Cher, Brecht e tantos outros, me inspiram muito. Parecem todos muito desconexos, mas o que os liga foi uma sede muito grande de querer mudar a realidade deles, pensaram e alguns ainda pensam no futuro.

- O que o assédio do público te trouxe de bom ou ruim?
O retorno do trabalho, principalmente. Na rua, as pessoas sempre chegam em mim e falam coisas boas, falam do humor do personagem e de como é um personagem de representatividade, importante. Na internet existe muito disso também, muitas pessoas apoiam o Michael e torcem para ele ter um final feliz, mas também há as pessoas que não gostam muito dele, seja pelo motivo que for. Alguns é por falta de gostar mesmo, não acham ele um personagem interessante ou não curtem a atuação, e outros é por conta do que o personagem representa, principalmente em relação ao produto. Essas pessoas acreditam que a homossexualidade e qualquer outra sexualidade que não seja heterossexual, é motivo para censura, para aumentarem a classificação indicativa. Que bom que na realidade não é.

- Você está namorando? Acha difícil manter uma relação sendo ator?
Sim, e acredito que a profissão não deva ser um fator de dificuldade de uma relação. Para mim, a maior dificuldade de uma relação é a outra pessoa. Se aquela pessoa está feliz, e se não estiver, o que fazer para deixa-la, então; ou se você está fazendo bem para essa outra pessoa, se os dois, enquanto casal, construíram uma relação saudável e etc. Coisas externas a isso, como profissão, rotina, faculdade e tantas outras coisas, não devem ser um fator da relação. É sobre amor, não sobre negócios.

- Você conseguiria se relacionar amorosamente com alguém que não fosse totalmente assumido?
Eu acredito que conseguiria me relacionar com qualquer pessoa, desde que ela também estivesse disposta a lidar com as minhas questões e que nós dois nos gostemos. Acho o amor simples.

- Qual é o seu pior medo?
Tenho medo de fracassar, de não alcançar tudo ou pelo menos boa parte daquilo que almejo, e isso não se trata de coisas materiais, mas sim, de objetivos de vida. Tenho medo de me perder no meio do mundo, de acabar me tornando uma pessoa que eu, em outrora, detestaria ou não seria amiga. Temo também o mundo, e o que ele pode fazer comigo, mesmo que eu esteja totalmente disposto a muda-lo e enfrenta-lo. Eu crio meus anseios e meus medos lado a lado.

- Conseguiu fazer amigos no meio artístico. Se sim quem são e como se relacionam fora do trabalho?
Acho que os amigos que fiz são os do trabalho, de verdade. Estou conhecendo pessoas agora, sou novo no meio artístico carioca e aqui parece uma bolha que todo mundo ou já se conhece de algum trabalho, ou conhece de alguém ou estudou junto. Então, quando começo a conhecer um, começo a conhecer todos, é engraçado até.

- Você é muito ativo nas redes sociais. Em algum momento sentiu vontade de sumir da internet?
Tem vezes que eu fico de saco cheio porque percebo que fico boa parte do tempo enclausurado no celular, acompanhado as pessoas que eu sigo e a repercussão das coisas que eu faço. Além de ter tantos absurdos circulando que eu só sinto vontade de jogar tudo pro alto e gritar “dane-se!” e ir dormir, ou ler alguma coisa ou assistir, sei lá.

- Quais são seus planos pós-Malhação?
Quero estudar e continuar trabalhando. Vou finalmente começar minha faculdade e estou muito ansioso para isso porque eu amo estudar e sinto falta do meio acadêmico. Mas não quero deixar de trabalhar, seja na TV, no cinema ou no teatro, eu não me importo desde que eu esteja trabalhando. Eu amo trabalhar e detesto ficar parado sem fazer nada.