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Opinião: Ao apostar na função social das novelas, 'Amor de Mãe' cresce com retrato da desigualdade na pandemia

Inserindo a Covid-19 na realidade de seu leque múltiplo de personagens, novela assumiu papel de informar e conscientizar

Gustavo Assumpção Publicado em 16/03/2021, às 11h33

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Opinião: Na volta ao ar, 'Amor de Mãe' coloca em evidência a função social das novelas - Reprodução/TV Globo
Opinião: Na volta ao ar, 'Amor de Mãe' coloca em evidência a função social das novelas - Reprodução/TV Globo

A volta de Amor de Mãe após quase um ano fora do ar trouxe uma nova protagonista à trama: a pandemia. Dialogando com a influência incontestável que as novelas exercem na sociedade brasileira, a produção emocionou, conscientizou e alertou para o momento em que o país enfrenta os maiores números de contágio e vítimas.

Logo na abertura, imagens exibiram ruas, praias e pontos turísticos completamente vazios. Ao fundo, um discurso defendia a importância do isolamento social. Na boca de Lurdes (Regina Casé), as incertezas causadas pela Covid-19: a dificuldade do uso correto de máscaras, o desafio de paralisar a vida e as próprias lutas por culpa de um mal maior e que, até o momento, tem se mostrado invencível.

A aposta certeira de inserir os personagens no mundo real e a grande repercussão nas redes sociais mostram que a autora Manuela Dias não perdeu a chance de provocar os telespectadores. Não são raros os exemplos de tramas que moldaram o comportamento de quem assiste e ajudaram na conscientização para temas importantes e urgentes: da violência contra idosos (Mulheres Apaixonadas, 2003), ao tráfico humano Salve Jorge, 2012), há muitos exemplos de novelas em que o chamado "merchandising social" foi responsável por uma mudança perceptível na realidade.

Em Amor de Mãe, os autores assumiram o difícil papel de conscientizar a população sobre os riscos da pandemia. Cansados e exaustos em suas casas, milhões de brasileiros foram lembrados de que o isolamento social, o uso de máscaras o cuidado com o próximo é o que vai nos salvar do vírus. 

SENSIBILIDADE E SUTILEZA

No retrato do cotidiano desses personagens e suas realidades transformadas pela pandemia, a trama mostrou sensibilidade e sutileza aos detalhes. Agora, os vilões usam máscaras sem eficácia comprovada e de maneira incorreta, enquanto os mocinhos protegem quem amam e não negam a realidade distópica que se impôs. No centro de tudo, a desigualdade: há aqueles que ficam em casa, no conforto de seus lares, e há aqueles que precisam enfrentar o mundo lá fora como uma questão de sobrevivência.

Com Betina (Isis Valverde), a trama presta uma homenagem aos milhares de profissionais de saúde que se apresentaram para cumprir suas funções em um cenário incerto e exaustivo. "Existem compromissos na vida da gente que a gente firma e é pra sempre. Ser médico e sem enfermeira é um desses", diz a personagem antes de assumir a missão de arriscar a própria vida em uma pandemia que hoje, um ano depois, segue longe do fim.  

Com isso, as maldades de Thelma (Adriana Esteves) ocuparam um papel secundário no capítulo. Responsáveis por fazer a trama seguir adiante rumo ao esperado desfecho, as sequências mostraram o talento absurdo da atriz, mas também o caminho de certa forma óbvio que a trama segue rumo ao fim. É bem verdade que a trajetória do núcleo principal precisou ser simplificada, bem como alguns personagens nem sequer retornam para que suas tramas sejam concluídas.

O retorno de Amor de Mãe mostra a bravura da produção para conseguir dar um final digno para uma das novelas mais promissoras dos últimos anos. Protocolos de segurança rígidos, clima de incerteza nos bastidores, paralisações: diante do caos dos últimos meses, nem mesmo as escolhas simples foram fáceis - sejam na novela, sejam em nossas vidas.