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Opinião: Ao chorar a morte de Paulo Gustavo, Brasil deu à tragédia da pandemia um rosto

Um país que vive um ano e dois meses de uma sequência de perdas canalizou na morte do ator seu luto - e aproveitou para cobrar responsabilidades

Redação Contigo! Publicado em 07/05/2021, às 14h30

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Opinião: Comoção após a morte de Paulo Gustavo mostra que Brasil deu à tragédia da pandemia um rosto - Reprodução/Multishow
Opinião: Comoção após a morte de Paulo Gustavo mostra que Brasil deu à tragédia da pandemia um rosto - Reprodução/Multishow

De todas as personalidades conhecidas que foram levadas pela pandemia, nenhuma fez o Brasil chorar tanto quanto a precoce partida de Paulo Gustavo.

Segundo um levantamento da Arquimedes, agência especializada em monitoramento de redes sociais, só nas primeiras 24 horas mais de 4 milhões de menções no Twitter lamentaram a morte do humorista de 42 anos. Em todas as redes sociais, o comportamento foi o mesmo: um país que vive um ano e dois meses de uma sequência de perdas encontrou um rosto único para canalizar seu luto - e para cobrar.

Jovem, no auge da carreira e com uma série de projetos por vir, Paulo Gustavo era um dos principais nomes de sua geração. Sucesso absoluto na TV, no cinema e no teatro, feito raríssimo, ele ainda estava longe do ápice. Planejava, por exemplo, uma carreira internacional em parceria com a Amazon e uma série inédita sobre o passado da personagem principal de Minha Mãe é Uma Peça. Paulo Gustavo também era pai de dois meninos e marido de Thales Bretas. Paulo Gustavo era filho de Déa Lúcia e do "seu" Júlio. Um pai, uma mãe, um marido e dois filhos que nunca o verão colocar em prática os seus sonhos.

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A morte do ator também provocou reflexão. É a materialização da certeza de que precisamos lidar melhor com as nossas próprias responsabilidades nessa pandemia: os artistas aglomeradores, os políticos negacionistas, as lideranças incompetentes, aqueles que já cansaram das máscaras, aqueles que não entenderam que o vírus está aí e é responsabilidade de todos nós impedirmos a sua circulação. A partida do artista é uma culpa que todos nós carregamos, mesmo que nem todos nós tenhamos a mesma responsabilidade sobre ela.

Nesse tempo todo, talvez o desabafo mais contundente tenha vindo justamente de amigos do humorista. “Dói muito saber que a maioria dessas mortes poderia ter sido evitada. Cadê a vacina? Cadê o isolamento? Cadê o cuidado? O Paulo tinha apenas 42 anos, dois filhos e não tinha comorbidades”, desabafou Fátima Bernardes. A amiga Tatá Werneck também precisou desmentir que ele tivesse alguma doença preexistente. "Paulo não tem comorbidades! Teve asma há 10 anos atrás e nunca mais teve crise. Enxerguem a realidade! Parem de negar a gravidade desse vírus!". Tempos difíceis em que precisamos justificar que alguém não estava pronto para partir.

A morte de um ídolo é sempre difícil porque parte com ele tudo o que poderia vir. E esse "tudo" nunca será conhecido. Só não parte o que ele criou porque o legado de um artista como Paulo Gustavo nunca deixa de existir - e passa a reexistir em outros humoristas, em outros atores, em seus amigos que honrarão seu legado e em seus filhos que ouvirão histórias sobre aquilo que ele representou. No futuro, a fala será sobre o passado e não sobre o presente, símbolo de um país que não enxerga cada vida como única. Tempos sombrios.