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Lorelay Fox dispensa oportunismo de marcas no Mês do Orgulho LGBTQIA+: "Apoiar só nessa época não basta"

Em uma conversa sincera com a CONTIGO!, a drag queen deu sua opinião sob a perspectiva do publicitário Danilo Dabague, que dá vida à artista

Matheus Aguiar Publicado em 18/06/2021, às 10h14

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Lorelay Fox dispensa oportunismo de marcas no Mês do Orgulho LGBTQIA+: "Apoiar só nessa época não basta" - Reprodução/Instagram
Lorelay Fox dispensa oportunismo de marcas no Mês do Orgulho LGBTQIA+: "Apoiar só nessa época não basta" - Reprodução/Instagram

Não se pode falar de representatividade LGBTQIA+ sem se lembrar de Lorelay Fox. A drag queen se monta há mais de 15 anos, e há pelo menos cinco deles se aproveita de sua arte para dar voz à comunidade nas redes sociais, onde se tornou uma das mais influentes de seu nicho - ela já soma mais de 1,8 milhão de seguidores entre YouTube, Instagram e Twitter.

Em uma conversa com a CONTIGO!, a artista revelou suas inspirações, deu detalhes de seu trabalho como um ícone da bandeira e ainda – sob a perspectiva de Danilo Dabague, o publicitário de 34 anos que dá vida à ‘queen’ - opinou sobre o oportunismo de empresas que se agarram à causa apenas durante o Mês do Orgulho.

Acho que quando a gente é uma artista LGBTQIA+, a gente não tem só uma pressão do público, a pressão de se posicionar acaba vindo de nós mesmas. A gente sente que precisa representar nossas próprias pautas. Nós sabemos que a nossa vida, que o nosso espaço só foi conquistado porque a gente se posicionou, porque pessoas antes de nós lutaram para isso”, disse ela ao ser questionada sobre a demanda por posicionamento.

Aliás, esse comprometimento com a igualdade também deve acontecer por parte das empresas que querem se vincular à causa no mês de julho, avalia: “Se eles aparecem na época da Parada, precisam ter tido um trabalho interno, apoiado ONGs ao longo do ano, e tudo isso faz com que esse seja um movimento legítimo”.

Apesar disso, a youtuber ressalta que o número de marcas oportunistas cai cada vez mais, principalmente devido à luta incessante da comunidade durante os últimos anos. “Eu acredito, mesmo, que as marcas estão melhorando nesse sentido. Quando eu comecei, há 6 anos, era muito mais escancarado que era só uma propaganda. Esse movimento, hoje, está muito mais maduro”, finalizou.

Veja na íntegra:

Lorelay, quem são os artistas da comunidade LGBTQIA+ que te inspiram e te fazem ter orgulho? 

As principais que a gente tem hoje em dia, não só para o meu trabalho, mas para o movimento, é a Linn da Quebrada e, claro, a Pabllo Vittar. A Linn é uma pessoa extremamente articulada, com um trabalho de relevância sem igual. Tanto na música, como nas falas. E o filme dela [Bixa Travesty] também é super representativo. Ela é uma pessoa do bem e que passa uma energia de transformação através da educação, da reflexão e do combate. É um exemplo a ser seguido.

Já a Pabllo, é um ícone quando se fala em drag queens e ela definitivamente influencia todos os LGBTQIA+. Gostando ou não da música, ela é um grande ícone da representatividade do nosso país hoje. Nesse país tão preconceituoso, saber que ela está em todos os lugares e que todo mundo já ouviu falar nela, é muito incrível! 

No início de junho você foi uma das apresentadoras da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo. Inclusive, não é a primeira vez. Como é a experiência de trabalhar em um evento tão grande e importante quanto esse, principalmente durante a pandemia da Covid-19?  

Para mim, ser uma das apresentadoras da Parada é um sonho e uma responsabilidade muito grande. É lindo saber que minha trajetória como drag queen me trouxe até esse ponto: de conseguir representar, mesmo que virtualmente, a maior Parada do mundo, que é vista por milhões de pessoas e tenta representar todos os recortes da nossa sigla. É um momento especial para experienciar a nossa história, olhar e ver que fazemos parte de um movimento que luta, que tem pautas relevantes e que sabe discutir suas políticas.

A gente quer ferver e estar bonita, mas temos um lado de conscientização muito forte que não deixamos para lá! Acho que cada ano a Parada está melhor, mais inclusiva e mais diversa.

Rolou alguma coisa divertida nos bastidores da transmissão da Parada que você pode nos contar? 

A coisa mais divertida é que finalmente eu pude ver Pabllo Vittar ao vivo depois de 2 anos. Também consegui ver a Gloria Groove. Foi incrível e super divertido! Eu já estava acabada no final, mas conseguimos tirar uma foto. É sempre maravilhoso encontrar minhas manas drags!

Aliás, a comunidade está sempre de olho nos artistas que fazem parte da bandeira, principalmente sobre posicionamentos em relação aos ataques que ferem direitos de pessoas LGBTQIA+. Como é sua relação com isso? Existe essa pressão em representá-los? 

Acho que quando a gente é uma artista LGBTQIA+, a gente não tem só uma pressão do público, a pressão de se posicionar acaba vindo de nós mesmas. A gente sente que precisa representar nossas próprias pautas. Nós sabemos que a nossa vida, que o nosso espaço só foi conquistado porque a gente se posicionou, porque antes de nós pessoas lutaram para isso. Se a gente deixar de se posicionar, a gente não vai abrir novas portas. A gente deve, sim, cobrar dos artistas o posicionamento. Inclusive, se eles forem LGBTQIA+, o mínimo é que apoiem e respeitem as pautas do movimento.

Quando eu vejo um LGBTQIA+ de fora de questões e sem lutar pelos nossos direitos, eu acho triste, penso que é alguém que não tem consciência de classe. A nossa classe precisa ter esse lugar e posicionamento escancarado. Nosso público precisa saber de maneira bem clara o que a gente acredita. A arte está intimamente ligada as questões de direito de pessoas LGBTQIA+.

Todos os anos conseguimos notar a alta demanda de empresas atrás de artistas LGBTQIA+ para campanhas publicitárias durante o mês de junho. E, ao fim dele, parte delas voltam a ignorar a bandeira. Como você, Danilo, publicitário por formação, enxerga essas estratégias? São legítimas?

Eu entendo que existe esse movimento das marcas apoiarem e aparecerem mais nesse mês do ano, o que é bom. De todas as formas, acho que o saldo é sempre mais positivo do que negativo. O público consegue entender qual marca só aparece nesse mês e qual marca está com a gente o ano inteiro. Cada vez mais, a partir dessa pressão, o público vai realmente enxergando isso. As marcas também percebem que nos apoiar só nessa época do ano não basta. No meio do ano é hora, sim, de nos apoiar, mas ao longo do ano também. Não é só trabalho publicitário, mas internamente também.

Eu falo muito com as empresas sobre isso e vejo que existe esse movimento. Se eles aparecem na época da Parada, precisam ter tido um trabalho interno, apoiado ONGs ao longo do ano, e tudo isso faz com que esse seja um movimento legítimo.

Eu acredito, mesmo, que as marcas estão melhorando nesse sentido. Quando eu comecei, há 6 anos, era muito mais escancarado que era só uma propaganda. Esse movimento, hoje, está muito mais maduro. Com as marcas que eu trabalho eu sei que as pessoas que levantam a bandeira nesse mês sabem que têm a responsabilidade de trabalhar nisso fora do marketing também, apoiando os LGBTQIA+ internamente e ao longo do ano.