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Carol Duarte reflete sobre a violência contra as pessoas trans

Por Ligia Andrade Publicado em 08/07/2017, às 20h00 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

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Carol Duarte, a Ivana de A Força do Querer - Fotos: Gerard Giaume
Carol Duarte, a Ivana de A Força do Querer - Fotos: Gerard Giaume
Carol Duarte entende que cada passo de Ivana, em A Força do Querer (Globo) é importante e delicado de ser retratado no ar. A atriz paulistana de 25 anos vive na trama de Gloria Perez, 68, as angústias e os dilemas de uma transexual que não se reconhece no corpo feminino. Mergulhou fundo no tema e a resposta do público não poderia ter sido melhor. “Eles sentem compaixão pelo sofrimento dela. Muitos ainda me dizem que estão felizes por este tema estar na trama. Como nunca fiz novela, tudo é novo. Não sabia o que esperar”, revela. Carol também sabe que ainda tem muito trabalho pela frente. Ivana vai viver muitas descobertas: “Estou empolgada pelo que está por vir.” Cria do teatro, a atriz está se adaptando à projeção de quem faz um folhetim em horário nobre. É discreta com relação à sua vida pessoal, esquiva-se das perguntas, mas diz que essencialmente nada mudou. “Continuo fazendo as coisas que sempre fiz. Trabalhando bastante, estudando, sonhando com milhares de projetos.” 

Mesma rotina, porém... “O que mudou é que as pessoas me reconhecem, vêm conversar sobre a personagem e a repercussão do meu trabalho tomou outra amplitude. Vejo as pessoas discutindo o tema da Ivana e isso me deixa extremamente feliz.”

Muito estudo “Para compreender este universo e o que as pessoas trans passam (foi necessário estudar). Esse mergulho é importante para que o ator compreenda as angústias, as pressões e a densidade da personagem. É desafiador, tenho sempre a impressão de começar do zero toda pesquisa, é uma folha em branco, que ao mesmo tempo que tem infinitas possibilidades. Assusta pela imensidão.”

“Ninguém da minha família é ligado ao teatro ou a alguma experiência artística”, revela a atriz. Carol vive Ivana, filha de Eugênio (Dan Stulbach) e Joyce (Maria Fernanda Cândido) que tem dúvidas sobre seu gênero

Nas entrelinhas “Assisti a filmes, a séries, conversei com muitas pessoas trans, mais homens do que mulheres. Todas as histórias com as quais tive contato foram importantes. Digo desde o que a pessoa me contava, fatos da vida, acontecimentos marcantes, até os silêncios que ela fazia. Uma experiência, muitas vezes, é contada nas entrelinhas. Nem tudo conseguimos colocar em palavras, falo isso porque me chamou atenção e é muito precioso na construção de um personagem, ainda mais no momento da trama em que a Ivana não consegue nominar sua agonia. Mantenho contato com algumas pessoas, como por exemplo um dos representantes do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (IBRAT), a Lam Matos.”

Total apoio “As novelas criam ficções e realidades que falam sobre nosso mundo. Personagens como a Ivana e o Nonato (Silvero Pereira) são muito importantes, claro, porque trazem para o público uma questão específica, disparam discussões e fazem as pessoas buscarem mais informações. Muitas vezes, o preconceito vem da falta de conhecimento. A violência à qual as pessoas trans são expostas é brutal. Já passou da hora de nós, como sociedade, destruirmos esse índice do país mais perigoso para uma pessoa LGBT viver. É inadmissível que fechemos os olhos para isso. Acho ótimo a novela lançar o olhar sobre o tema, porque é necessário, é urgente apoiarmos a luta trans, porque isso também nos diz respeito.”

Mudança de gênero “Não sei dizer nada sobre quando e como vai ser esta transformação da Ivana. A minha preparação é ir caminhando junto com a Glória Perez (68, autora da novela). Cada passo é importante e delicado. Como atriz, estou disponível para o que a personagem exigir na trama.”
rotina de treinos “Por conta das gravações, não consegui continuar a fazer vôlei de praia, mas acabo de voltar para a musculação.”

Carol mergulhou no universo trans: estudou, conversou e assistiu a filmes

Balanceada “Não faço dieta, como de tudo sem exageros. Não abro mão de macarrão e comida japonesa.”

Espelho meu... “Não me considero uma mulher vaidosa. Gosto de me cuidar, de me sentir bem, mas não tenho essa obsessão por ser magra, por me enquadrar em algum padrão. A beleza tem infinitas formas.”

Memórias “Fui muito feliz, tive uma infância e adolescência boa, minhas memórias são as melhores. Tenho vários amigos de infância que estão na minha vida até hoje que são de lá, além da minha família, que continua morando em São Bernardo do Campo.”

Aos 15 anos “Ninguém da minha família é ligado ao teatro ou a alguma experiência artística. Me lembro que comecei a fazer teatro na escola e depois fui fazer algumas oficinas pela prefeitura de São Bernardo do Campo. Desde então, não parei mais de fazer. Sempre quis, me dediquei a isso.”

Carol levanta a bandeira do feminismo. “Parece que precisamos provar o tempo todo que podemos”

Ah, os perrengues! “Estava em processo de criação de uma peça e, para me sustentar financeiramente, passei a trabalhar com outras coisas. Infelizmente, isso não é uma novidade para quem se dedica ao teatro.”

Feminismo “As lutas das mulheres não são de agora, sinto um respeito enorme por aquelas que lutaram. Hoje, podemos votar, parece engraçado pensar, mas anos atrás, nós, mulheres, não podíamos – e muitas apanharam para termos hoje esse direito. Trabalhamos em cargos tido para homens, ainda ganhamos menos, e por isso ainda temos de lutar. Parece que precisamos provar o tempo todo que podemos estar nos cargos que ocupamos, porque não é uma evidencia nós estarmos lá.”