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Aracy Balabanian diz que não quer perder a lucidez

Aos 77 anos, a atriz diz que a idade não acaba com a libido e que pensa na finitude da vida. Intérprete de Geppina, em Sol Nascente, quer viajar sem destino após o fim da trama

Por Ligia Andrade / Fotos: Antonio Ribeiro Publicado em 04/03/2017, às 17h30 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

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Aracy Balabanian - Fotos: Antonio Ribeiro
Aracy Balabanian - Fotos: Antonio Ribeiro
Aracy Balabanian sente-se em casa nos Estúdios Globo. Faz questão de cumprimentar a todos, sejam colegas de elenco ou profissionais de qualquer área, sem distinção. Gosta de um bom papo, de estar à disposição dos amigos, de rir –confessa ter riso frouxo e mania de limpeza. Aos 77 anos, mais de 50 de carreira, a atriz de origem armênia já escreveu o seu nome na história da TV brasileira com tantos papéis inesquecíveis, entre eles a Cassandra, do humorístico Sai de Baixo (Globo, 1996) e a Dona Armênia, da novela Rainha da Sucata (Globo, 1990). “Quando não estou bem e venho trabalhar, parece que renasço”, explica a intérprete de Geppina em Sol Nascente (Globo). Aliás, a atriz quase não aceitou o papel da trama do autor Walther Negrão, com quem fez sua estreia na televisão em Marcados Pelo Amor (Record), em 1964. “Não queria mais fazer novela. Silvio de Abreu (autor e diretor do departamento de dramaturgia diária da emissora) disse: ‘Para de ser vagabunda! Vai trabalhar... (risos)’ E realmente valeu tanto a pena, porque é a hora que mais me divirto. O chato é ter de decorar, mas prefiro, ainda estou com a cabecinha boa. É o exercício mais importante. Sei que a idade chega, tenho cuidado com a minha saúde, não queria perder a lucidez. A idade é um troféu.” Leia mais a seguir.

Satisfação “Estou cansada, com problemas de voz, um pigarro insistente. Mas essa turma foi especial, entrosada, e isso é que caracteriza o sucesso de uma novela. Não importa quanto que deu (no Ibope), não me preocupo com números. Vou sentir saudade dessa turminha, mas a gente acaba se reencontrando.”

Lado Geppina “Não tive filhos, mas tenho sobrinhos, sobrinhos-netos e agora bisnetos, além de afilhados. Tenho uma afilhada com 14 anos, cuidei de toda a sua parte dentária, levando-a ao dentista, sou mãezona nesse sentido. Queria festejar quando ela tirasse o aparelho. Faço tudo o que ela quer, tenho esse lado fraternal. Gosto de receber meus amigos, poder estar à disposição, tenho esse lado que todos chamam de maternal... É meu mesmo.” 

Aracy fraturou a vértebra em 2014 e precisou tomar remédio com morfina. “A dor não passava” 

Questão da Vida “Sempre trabalhei muito e era difícil coordenar o cara que você estava gostando com a hora de ter filho. Acabou que não deu, sempre achei que cuidar de filho é difícil, não tínhamos nem licença-maternidade. Estava vendo a Letícia (Spiller, 43, atriz) preocupada, porque está sem tempo de estar com a filha, e ela quer tempo. Iria querer tempo também e não tinha.”

Libido Continua “Percebo que temos tudo igual, não acaba. Por outro lado, o sonho das minhas irmãs – sou caçula de sete irmãos – era que contracenasse com o Cuoco (Francisco, ator, 83, intérprete de Gaetano). E não coincidia. Agora, dois anos após a perda de minha última irmã, sei que elas devem estar animadas, iriam falar: ‘Viu, ela conseguiu... Sempre consegue!’.”

Vontade de fazer teatro “Se analisar minha carreira, fiz mais TV, mas não foi pensado. A vontade de fazer teatro não acaba nunca, é que foi ficando difícil; hoje, quase impossível de fazer. Não há mais incentivo, e também não quero fazer qualquer peça. Cheguei a fazer uma tragédia grega com a Laura Cardoso, uma mulher de televisão. Foi a primeira vez que trabalhamos juntas.” 

Trajetória “Cada coisa tem seu valor, mesmo que não tenha sido bom. Sou faladeira, o que ficam são as histórias. Na época que Daniel Filho estava dirigindo Sai de Baixo, pedi para sair, não porque não fizesse comédia, mas achava que precisava ensaiar muito. E tenho o riso frouxo, é um defeito meu, meu pai já dizia isso. Miguel (Falabella, 60) no final concluiu que eu finalizava a piada rindo. Aprendi muito, as pessoas acham que o programa (reprisado pelo canal Viva) ainda está passando, é engraçado...”

“Troco qualquer restaurante por cachorro-quente, pastel, pizza e chocolate”

Idade é troféu “O segredo da vitalidade, em primeiro lugar, é o profissionalismo. A minha geração é muito profissional. Gosto da vida, tenho prazer em agradar às pessoas, em viver. O meu trabalho me retribui muito. E cuido da saúde, faço alongamento, minha alimentação é toda regrada, não como açúcar, parei de fumar... Dificilmente acordo com dor.”

Finitude da vida “Sempre tive um lado filosófico, cuidei dos meus pais até o último dia deles, sofri muito. Queria uma finitude sem ser muito dolorosa. E papai se foi antes de minha mãe, que já estava doente, e isso foi doloroso. Tive de pensar em tudo isso. Até o momento que passei a frequentar cemitério toda hora. E percebi que eles estavam sempre comigo no meu coração.” 

Legado “Não tenho filhos, tenho sobrinhos, afilhados... Como vou fazer com as minhas coisas? Penso nisso. Sei que eles vão sentir saudades de mim, acho que vou morrer em paz, saudável, como diz minha fisioterapeuta.”

Religiosidade “A primeira janela que abro no meu quarto e rezo Ave-Maria e Pai Nosso – são os melhores mantras do mundo. Peço pelos próximos, pela humanidade, acendo um incenso... Tenho sempre fé de que as coisas vão melhorar. Aprendi isso com minha mãe.”

Futuro “Estou cansada, queria cuidar da saúde, fazer um check-up e viajar sem destino. Estou solteira, pretendo ir sozinha ou, se arrumar alguém, não sou muito de grupo. Vai que arrumo um namorado até lá, posso financiar (risos)...”