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Críticas / RETORNA HOJE

Em 'Novo Mundo', formação brasileira é romantizada para construir novelão de qualidade

Retornando ao horário das seis, novela une produção caprichada à visão pouco fiel da história do Brasil

Gustavo Assumpção Publicado em 30/03/2020, às 17h06 - Atualizado em 01/05/2020, às 22h59

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Novo Mundo: novela sobre a formação do Brasil é retrato pouco fiel, mas encantador - TV Globo
Novo Mundo: novela sobre a formação do Brasil é retrato pouco fiel, mas encantador - TV Globo

Logo na primeira cena de Novo Mundo, o mulherengo Dom Pedro I (Caio Castro) foge da cama de uma de suas muitas amantes, cavalga pelas ruas encharcadas do Rio e entra numa das igrejas espalhadas pela região central da capital da colônia. Só de roupas de baixo, ele encontra os pais, Carlota Joaquina (Débora Olivieri) e Dom João VI (Leo Jaime), aqueles que ao decidirem desembarcar em terras brasileiras trouxeram os luxos e intrigas da corte portuguesa. "Estava com uma rameira que te fez perder as horas... e as calças", diz a mãe antes de um de seus ataques de fúria.

Do outro lado do oceano, Leopoldina (Letícia Colin, em seu melhor papel na TV) se despede com um suntuoso banquete antes de embarcar ao Brasil. A jovem princesa austríaca está prestes a se casar com um desconhecido que anos mais tarde decretará a independência do Brasil. 

Há muitas inconsistências históricas na trama de Thereza Falcão e Alessandro Marson. A começar pelo próprio embarque da herdeira dos Habsburgo ao Brasil: na época, Leopoldina ficou presa por alguns meses na Itália e embarcou para cá em um dia de forte calor - bem diferente da neve austríaca retratada nas cenas iniciais da trama. Também não existiram boa parte das situações e dos personagens criados pelos autores.

A dupla também flexibilizou as relações entre escravizados e escravizadores. Ao apostae em uma relação cordial entre a corte e os negros trazidos da África, a novela patinou e foi, por vezes, excessivamente romantizada. A própria relação entre Leopoldina e Dom Pedro também surge açucarada, bem diferente da versão problemática e abusiva que aparece em alguns registros históricos.

Novela não é documentário e ficção não precisa ter um pé na realidade, diziam os mais liberais. Ao adotar tais liberdades, Novo Mundo se torna uma das melhores novelas que o horário das seis já viu: misturando uma dose de aventura com um triângulo amoroso digno dos melhores romances (além do casal já citado, Domitila, a "favorita do Imperador", papel de Agatha Moreira), a trama cresce porque mostra muito das dificuldades e contradições que persistem desde o início da fundação desta nação.

Talvez por isso o casal Joaquim (Chay Suede) e Anna (Isabelle Drummond) seja tão marcante para o público que acompanhou cada um do momentos que ajudaram a narrar a trajetória do casal. São dois personagens aparentemente antagônicos, mas que crescem ao longo da trama ao conhecerem os saberes e costumes desta terra. Os ideais revolucionários, o saber dos povos primordiais e a capacidade de improvisar diante do caos aparecem como pontos de ruptura de suas trajetórias. Entre o Velho e o Novo Mundo há muito mais semelhanças do que imaginamos.