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Jorge Brasil: 'Malhação' acerta ao tocar na ferida da intolerância com a opinião (política ou não) de nosso semelhante

Patrícia Moretzshon não faz concessões ao retratar a realidade que vivemos na disputa pela presidência do grêmio estudantil do Sapiência

Jorge Luiz Brasil Publicado em 15/09/2018, às 18h34 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h46

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Hugo e Dandara: uma relação entre tapas e beijos - Divulgação Globo
Hugo e Dandara: uma relação entre tapas e beijos - Divulgação Globo

Dentre todas as novelas inéditas no ar, atualmente, uma tornou-se a mais relevante, por retratar com muita inteligência e energia a fase em que o país está vivendo. Engana-se quem pensa que seja Segundo Sol, O Tempo Não Para ou Orgulho e Paixão. As três novelas da Globo também trazem temas pertinentes à atualidade, mas é Malhação: Vidas Brasileiras que toca na questão da dificuldade do diálogo entre nós brasileiros, quando o assunto é política. Nunca se viu o Brasil tão polarizado e dominado por intransigências. E é isso que a trama de Patricia Moretzshon aborda ao contar a história de Dandara (Jennifer Dias) e Hugo (Leonardo Bittencourt).

Dandara é uma jovem aguerrida, consciente da luta árdua que enfrenta diariamente por respeito, por ser negra e mulher. É a mais perfeita representante do movimento global #MeToo, contra o assédio. Já Hugo é o oposto dela. Playboy meio bobão, desligado de tudo, não é má pessoa, mas a criação machista que todo menino recebe o faz ignorar preceitos básicos da convivência com a mulher moderna.  Sem papas na língua, foi com tudo pra cima de Dandara e despertou a fúria de alguém que não aceita ser tocada sem o seu consentimento. Apesar da forte atração que existe entre eles, os dois viraram rivais ferrenhos, tanto que decidiram se candidatar à presidência do novo Grêmio Estudantil do colégio Sapiência.

Não bastassem dois candidatos tão diferentes, a vilã Fabiana (Gioavanna Rangel) também resolveu entrar na disputa. Foi formada então a corrida política que esfarelou todas as relações possíveis dentro da escola, acabando com amizades, namoros e ressaltando aquilo que deveria ser mais importante: a tolerância com a opinião alheia. Dandara seria uma típica candidata de esquerda, sempre tentando mudar o mundo, mesmo que de forma atrapalhada, já que muitos amigos acham que ela exagera na agressividade de suas tomadas de posição. E foi isso que afastou os apaixonados Flora (Jeniffer Oliveira) e Tito (Tom Karabachian), Alex (Daniel Rangel) e Maria Alice (Alice Milagres) e até os descolados Pérola (Rayssa Bratillieri) e Márcio (André Luiz Frambach).

As meninas se revoltaram pelo apoio que seus namorados deram a Hugo e sequer se interessaram em realmente ouvir seus argumentos. Eles, por sua vez, cansaram dos discursos inflamados de Dandara e das justificativas das amadas para ficaram ao lado da nova colega de turma. Fabiana representa o pior típico de político que existe. Reacionária, apela para o jogo sujo, com o intuito de desmerecer seus candidatos, principalmente, Dandara. Já Hugo entrou na parada só para provar que não é tão vazio de ideias, como as combativas seguidoras de Dandara tentam fazê-lo parecer.

Para a surpresa geral uma mulher se posicionou contra os Dandara. Jade (Yara Charry) prefere até votar em Fabiana a apoiar os destemperos de Dandara ou as infantilidades de Hugo. Foi o suficiente para seu melhor amigo, Michael (Pedro Vinícius), um militante da causa LGBT e simpatizante do #MeToo, se voltar contra a falta de consciência da patricinha. No meio de tudo isso, Garoto (Pedro Maya) é acusado de ficar em cima do muro e Márcio se revolta por não respeitarem o direito de alguém não se posicionar. A saída para resolver tanta briga vem da professora Gabriela (Camila Morgado): promover um debate para cada um expressar suas ideias. Mas o que era para ser um exemplo de democracia, apenas acirra ainda mais as animosidades.

É um tal de gente bloqueada no celular ou excluída dos grupos de Whatsapp. “Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real NÃO terá sido mera coincidência...” Com muita eficiência, Patricia Moretzshon joga na cara do espectador o quanto é nociva essa incapacidade de ouvir o outro, de tentar compreender seu semelhante. Não concordar, mas simplesmente dialogar e aceitar que existem ideias diferentes das suas. Os jovens atores vestiram a camisa desse tema tão importante e deram veracidade às rivalidades que transformaram o Sapiência num verdadeiro Facebook vivo, onde todos destilam ódio, mágoa e intolerância. Dividida em tramas quinzenais, protagonizadas por diferentes personagens, Malhação: Vidas Brasileiras vinha patinando em enredos chatos e repetitivos. Mas ganhou, nessas duas semanas, novo fôlego e dinamismo. Ainda bem! Vamos ficar ligados para conferir como tantos impasses serão resolvidos.