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Crítica: Entre acertos e tropeços ‘Segundo Sol’ agradou

Novela de João Emanuel Carneiro teve altos e baixos, que culminaram em um capítulo final fraco e previsível

Jorge Luiz Brasil Publicado em 10/11/2018, às 00h55 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h46

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Os ótimos finais de Laureta e Karola eclipsaram o fim de Luiza e Beto - Reprodução
Os ótimos finais de Laureta e Karola eclipsaram o fim de Luiza e Beto - Reprodução

Novela perfeita não existe. Aceita que dói menos. Aliás, perfeição é uma premissa que não existe e que foi inventa apenas para alucinar a vida da gente, assim como o conceito de felicidade total. O que não dá para digerir é um texto ruim, direção preguiçosa, atores no piloto automático e excesso de falta de coerência. E não foi o caso de Segundo Sol, a quinta novela de João Emanuel Carneiro. Mesmo com um argumento frouxo, o texto esperto e os bons personagens e seguraram a onda, principalmente, os do lado negro da força. Karola e Laureta já garantiram seus lugares na galeria dos melhores da TV, graças às atuações magistrais de Deborah Secco e Adriana Esteves. Vladimir Brichta (Remy), Chay Suede (Ícaro), Letícia Colin (Rosa), Danilo Mesquita (Valentim), Armando Babaioff (Ionan), Luís Lobianco (Clovinho), Thalita Carauta (Gorete), Frabrício Boliveira (Roberval), Giovanna Lancellotti (Rochelle), Cláudia Di Moura (Zefa) e Kelzy Ecard (Nice) também se destacaram.

Mas e os protagonistas Emilio Dantas (Beto Falcão) e Giovanna Antonelli (Luzia)? Excelentes atores, Emilio e Giovanna cumpriram suas missões com glória. Ele soube ser um herói doce, romântico e que, mesmos nas situações mais absurdas, nunca deixou de acreditar na força de seu amor por Luzia. Quem não gostaria de ter a seu lado um homem como Beto? Por outro lado, o personagem foi excessivamente ingênuo e passivo. Sempre ficou nas mãos de suas mulheres fortes, Karola e Luzia.

Já a marisqueira/DJ não foi tão dedicada a Beto assim. Titubeou demais e não confiou no seu companheiro em momentos chaves da história – como a descoberta de que o filho deles estava vivo – e repetiu erros imperdoáveis, como ser enganada por vilões óbvios, como Karola e Remy (Vladimir Brichta). Na reta final da novela, coitada, quando a história estava mais eletrizante Luzia foi para a cadeia. Ou seja: o mundo pegando fogo, Karola e Laureta reinando e Luzia sumida da tela. Uma vacilada pesada do autor com a sua protagonista.

Rosa foi outra personagem que começou Segundo Sol como uma das mais bem construídas. Uma anti-mocinha, ambiciosa, intensa, apaixonada pela vida, ela foi comendo pelas beiradas até virar o centro das atenções. Mas, em determinado ponto do enredo, Rosa se perdeu, ficou inverossímil demais e essa troca de parceiros no penúltimo capitulo, com a criatura indo dormir com Ícaro e acordando com Valentim , foi pra lá de desnecessário, para não dizer ridículo. Para piorar, arrumam uma namorada marisqueira para Ícaro, Marina (Juliana Nalu, belíssima), que entrou muda e saiu calada.

Nas outras tramas, Roberval (Fabrício Boliveira) e Rochelle (Giovanna Lancellotti) começaram muito bem, como tipos amorais e debochadow, mas terminaram doces demais, o que não casou em nada com a jornada dos dois. Tudo bem que o poder do perdão é transformador, mas a paz reinante que surgiu na família Athayde subestimou a inteligência do espectador além do tolerável. Rochelle, curada, ficou com o gato do Narciso (Osmar Silveira), também recuperado do vício de drogas. E eles foram felzes para sempre! Sei...

Bastante desnecessário também foi o triângulo amoroso formado por Dodô (José de Abreu), Naná (Arlete Salles) e Nestor (Francisco Cuoco). Não agregou em nada para a história e o desperdício de um mito como Cuoco foi quase ofensivo. Qualquer figurante poderia fazer um papel tão sem impacto quanto o farmacêutico revolucionário. Melhor sorte teve Renata Sorrah, que surgiu aos 45 do segundo tempo e, na pele de Dulce, foi um furacão que deu mais tempero ao núcleo de Karola, Laureta e Remy. Mais um triunfo desse monstro sagrado que já nos brindou com Carolina Villar (Roda de Fogo, 1986), Heleninha Roitman (Vale Tudo, 1988) e Nazaré Tedesco (Senhora do Destino, 2004), entre outras criações genais.

De positivo teve ainda as revelações de Claudia Di Moura e Kelzy Ecard. Mulheres de meia idade submissas, apagadas e oprimidas, Zefa e Nice tiveram trajetórias muito rica, de empoderamento e vitórias pessoais e profissionais. E, em muitos momentos, roubaram a cena do eixo central do enredo. Aplausos também para Roberto Bomfim, que esteve sempre brilhante como o cavalo do Agenor, um papel à altura desse grande ator, que vinha sendo relegado a participações aquém do seu talento.

Já Armando Babaoiff provou como Ionan que está pronto para mais desafios e que merece atenção especial da emissora. Apesar de Ionan ser um policial de merda, a composição de Babaioff foi impecável. Ele desenvolveu tiques discretos para os momentos de insegurança ou tensão do rapaz, como roer as unhas e uma ligeira gagueira. Detalhes que fazem diferença e diferenciam um intérprete preguiçoso de um profissional sempre em busca do algo mais.

O quadrilátero amoroso de Ionan com Doralice (Roberta Rodrigues), Maura (Nanda Costa) e Selma (Carol Fazu) teve altos e baixos, mas foi um núcleo honesto e importante para que o público realmente entenda as diversidades que podem existir numa família, No capítulo final, tudo foi resolvido de forma sensata em sequências muito bem interpretadas pelos quatro atores.

E por falar no último capítulo... Que decepção!!! Tirando a dramática morte de Karola, assassinada pela própria mãe, todo o restante foi um acúmulo de clichês. Mesmo a irônica e crítica derradeira de Laureta ter casado perfeitamente com o momento político em que vivemos, ela não foi uma novidade. Já vimos personagens do mal decidindo entrar na vida pública em várias outras produções da casa. Já Remy foi muito mal aproveitado, assim como todo o núcleo do bordel e da garota do Casarão. O episódio valeu pelas belas cenas de Roberval e Cacau (Fabiula Nascimento) e as tomadas bacanas de Beto Falcão e sua família no trio elétrico.

A novela deveria ter terminado ali, com Beto e Luzia aos beijos e, depois, acenando para seu público. Mas os protagonistas foram relegados ainda uma última vez, com Clovinho e Gorete estrelando a cena final de Segundo Sol, uma tolice tão monumental que poderia tranquilamente ter passado antes sem maiores prejuízos para o encerramento da novela. Lamento muito por Giovanna e Emílio. Eles mereciam mais! Já a brincadeira de Badu (Davi Queiroz) subindo no letreiro do Fim foi fofa. Um mimo, que teve seu encanto. Que venha O Sétimo Guardião!