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Senhor das Moscas: Meninos e homens em um mesmo espetáculo

Os atores do musical, em cartaz em São Paulo, foram desafiados ao extremo. Mesmo crianças, seus personagens ajudam a falar sobre temas espinhosos da sociedade, como bullying e fascismo

Por Tainá Goulart Publicado em 15/06/2017, às 12h00 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

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Bastidores do musical Senhor das Moscas - Fotos: Paulo Santos
Bastidores do musical Senhor das Moscas - Fotos: Paulo Santos
Ao longo dos quatro meses de ensaio, o elenco do musical Senhor das Moscas, em cartaz no Teatro do Sesi, em São Paulo, tem sido preparado, praticamente, para uma guerra (cantada!). Baseada na obra homônima do escritor inglês William Goldingde (1911-1993), o espetáculo conta a história  de um coral de crianças inglesas que fica preso em uma ilha deserta, sem supervisão adulta. Os cenários são feitos com rampas de 45 graus e os 14 atores precisaram de treinamento intensivo. “Somos crianças, que têm energia, e quase todas as cenas são feitas em um ritmo muito acelerado pelas rampas. Então, é como se a gente cantasse correndo em uma esteira inclinada, por cerca de uma hora e meia. A nossa preparação foi intensa e nós fazíamos séries de crossfit (um programa de treinamento de força e condicionamento físico geral baseado em movimentos funcionais) enquanto cantávamos as músicas”, revelou Bruno Fagundes, 28, o Ralph, um dos protagonistas. 

A preparação deles foi intensa, chegaram a fazer séries de crossfit enquanto cantavam as músicas da montagem, uma vez que interpretam membros de um coral infantil na história 

Diálogo com os adolescentes
Além disso, ele e os outros três protagonistas, Ghilherme Lobo, 22, o Jack, Felipe Hintze, 23, o Porquinho, e Thalles Cabral, 23, o Simon, leram o romance que dá nome à peça, um dos mais importantes da literatura britânica, e vários outros títulos relacionados aos temas abordados no palco. “O bullying é a porta de entrada desse texto, mas ele tem tantas discussões, principalmente sobre a formação de grupos na adolescência, como surge a maldade e a origem do fascismo. Eu e a diretora musical, a Fernanda Maia, encontramos uma fresta por onde a música entraria para nos ajudar a contar a história. Durante os ensaios, trouxemos peças de corais tradicionais para os meninos, pois os personagens fazem parte de um coral. As canções nos ajudam a enfatizar certos assuntos delicados, como o totalitarismo”, revela o diretor, Zé Henrique de Paula, 46. Ralph e Jack têm um embate na ilha e criam dois grupos opostos, enquanto Porquinho é hostilizado pelos colegas e Simon tem certa sensibilidade e antevê os males do lugar. “Existem crianças más e o bullying é algo muito sério, que infelizmente está crescendo cada vez mais. A abordagem desse assunto na peça é uma forma de combatê-lo. Eu nunca sofri ataques como o Porquinho, mas não posso dizer que nunca sofri nada na escola. O fato de eu ser gordinho nunca foi um problema para mim e, talvez, por eu ser bem resolvido com isso, apelidos e brincadeiras de mau gosto não me afetaram tanto”, relembra Felipe, que se dividiu entre os ensaios no teatro e as gravações da nova temporada de Malhação – Viva a Diferença (Globo). 

Bruno Fagundes interpreta Ralph e ele é quem canta a única música original, escrita pela diretora musical Fernanda Maia. “Eu só tinha cantado duas vezes na vida, para os amigos. Criei uma banda e fui fazer shows durante um período sem trabalhos de atuação. Aqui foi um desafio e tanto!”, revela

Trabalhos paralelos
Não foi só ele que ralou e se esqueceu da vida pessoal. “Aliás, vida pessoal, o que é isso?”, brincam os atores. “Estava produzindo meu primeiro disco e ensaiando ao mesmo tempo. De vez em quando, eu tenho algumas breves obsessões e o tema utopia, nome do meu álbum, foi uma delas. É uma feliz coincidência com a peça, pois eu acho que dialoga muito e, de certa forma, me ajudou no entendimento geral da peça e o que o personagem representa, pois eu já tinha buscado e lido muita coisa sobre utopia e distopia antes de começar a produzir o meu trabalho musical”, conta Thalles. Como já têm experiência com a música, ele e Ghilherme, cujo currículo possui montagens como A Noviça Rebelde, em 2009, e a Bela e a Fera, de 2002, ajudaram muito os companheiros de cena. “Eles deram toques bem legais na hora de unir as três habilidades”, diz Felipe. “Não tivemos pressão para juntar o canto, a dança e a interpretação, foi tão natural que não percebemos. A forma tranquila e orgânica que o diretor trabalhou cada parte nos deixou seguros. Foi um trabalho feito em grande conjunto, no qual pude apresentar e explorar as minhas propostas, dúvidas e impressões e construir junto com esse coletivo. Jack é uma das personagens mais difíceis que já fiz, tanto na parte física, quanto na emocional”, opina Ghilherme. 

Eles estão em cartaz no Teatro Sesi, na Av. Paulista, em São Paulo

Com um elenco tão grande, Bruno, que é filho do ator Antônio Fagundes, 68, garante que eles praticamente viraram irmãos. “É sempre um desafio trabalhar com tantas pessoas, mas acho que colaborar é o que nos move. O amor foi imediato por todos e essa amizade transparece nos palcos”, relata ele, que também trabalhou com um elenco grande em sua participação na série americana Sense8, da Netflix, cancelada recentemente. “Foi uma experiência incrível! Havia pessoas de todas as nacionalidades trabalhando, uma equipe de mais de 120 pessoas, todas me chamando pelo nome. O desafio ali foi conter o nervosismo diante de profissionais tão maravilhosos! Na cena (um beijo com outro homem), eu não tive receio nenhum, sou um ator exercendo meu trabalho. Meus pais viram e adoraram!”, conta. 

Ghilherme Lobo esconde a barba e dá vida ao seu personagem infantil. Ele é o mau caráter Jack, que dissemina o medo e comanda um dos grupos da ilha deserta