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Raissa Santana está em busca da coroa universal

Com a mesma garra que derrotou o racismo e ajudou a mãe faxineira a criar os quatro irmãos, a Miss Brasil se prepara para o maior concurso de beleza do planeta

Por Fabricio Pellegrino / Fotos: Danilo Borges Publicado em 27/01/2017, às 12h10 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

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Raissa Santana, a Miss Brasil Be Emotion - Fotos: Danilo Borges
Raissa Santana, a Miss Brasil Be Emotion - Fotos: Danilo Borges
No dia 1º de outubro de 2016, Raissa Santana derrotou 26 candidatas à vaga de Miss Brasil Be Emotion e faturou a cobiçada coroa, além de viagens para Itália e Colômbia, joias, carro e contrato publicitário de 100 mil reais. Porém, o grande prêmio da musa que defenderá o país no Miss Universo, no próximo dia 29 de janeiro, nas Filipinas, foi quebrar o jejum de 30 anos sem que uma negra triunfasse no concurso e se tornar a segunda representante da etnia a conquistar a honraria nos 63 anos da competição. A primeira foi a gaúcha Deise Nunes, 48. “Foram anos sem uma miss negra em um país em que a maioria da população é negra. Por que?”, questiona a bela. Outro bônus da vitória: se tornar referência para meninas que, como ela, crescem sem uma personalidade para se espelhar. “Necessitamos de representação. Eu não tinha tantos modelos que me inspirassem, por exemplo, a assumir os cachos e aceitar a cor da minha pele”, defende. No entanto, o discurso de Raissa passa longe da segregação. Ela quer simbolizar a beleza feminina independentemente das características. E tem conseguido. “Fico feliz quando todo tipo de mulher diz que as represento”, conta. 

Convencida de que era feia
A autoaceitação da miss, no entanto, demorou a acontecer. Ela só começou a suspeitar que era bonita quando, aos 15 anos, foi notada atrás da bancada da recepção de uma academia em que trabalhava em Umuarama, Paraná. Impressionados com a beleza da moça, um fotógrafo e um maquiador perguntaram se não gostaria de participar de um concurso de beleza local, o Miss Teen. Antes disso, em sua cabeça só reverberava o bullying sofrido no ensino fundamental. “Na escola, zoavam o meu cabelo crespo, o meu sotaque nordestino... Hoje, tenho maturidade para ver que o preconceito era velado, pois me chamavam de feia não por não ser bonita, mas por ser negra. Os professores viam, mas não faziam nada. Muitas vezes fui embora chorando e, por mais que me arrumasse, não adiantava, pois a maldade continuava”, entrega. Ao se classificar em segundo lugar na disputa adolescente, a visão de si mesma mudou. Então, decidiu encarar as passarelas como profissão. “Quando comecei a modelar, minha autoestima melhorou. Percebi que não era feia e parei de ligar para o que falavam”, afirma. Porém, sem muita oferta de trabalho na região, garantia o salário fixo como secretária de um estúdio fotográfico. Em 2015, aos 20 anos, retornou às disputas de beleza e sagrou-se Miss Umuarama. No ano seguinte, levou o Miss Paraná. 

Nascida em Itabuna, Bahia, mudou-se para São Paulo com 1 ano. Aos 5, foi para o Paraná, estado que representou no Miss Brasil

A melhor razão para ser Miss
Embora tenha representado o estado no Miss Brasil, Raissa nasceu em Itaberaba, Bahia. Com um ano, mudou-se com a mãe e o pai de criação para São Paulo. Ela não teve contato com o pai biológico. Aos 5 anos, foi para Umuarama. “Como minha mãe é só e trabalha como doméstica, ajudei a criar meus irmãos: limpava a casa, fazia comida...”, confessa a ex-estudante de marketing. Ela, aliás, só cursou essa faculdade por não ter grana para estudar gastronomia. “A minha família é unida e não passamos fome porque um ajudava o outro. Quando fomos para o Paraná, dividimos uma casa de três quartos em quase 20 pessoas”, conta. E é justamente nelas que Raissa pensa para encontrar forças e seguir seus passos. Entre seus planos está ajudá-los e comprar uma casa para a mãe. “Estou aqui para dar uma vida melhor a eles. Essa é a parte que me deixa mais feliz. Mas não estou rica, ainda luto pelas minhas coisas”, revela. 

Mundo, aqui vai ela!
Ao se tornar a mulher mais bonita do país, veio sozinha a São Paulo para se preparar para o Miss Universo. Além da família, se distanciou do namorado Marcos Tagliari. “Ele é um príncipe e sempre vem me ver. Não ficou inseguro nem tem ciúme. Deus o colocou na minha vida porque sabia que só alguém com uma mente aberta teria paciência para tudo isso. Mas, embora queira me casar e ter filhos, tenho outros planos no momento”, assume. Durante a temporada na capital paulista, preparou-se para o Miss Universo. Aulas de passarela e inglês, coach de vida, curso de ator e malhação abarrotaram a agenda de Raissa, que está nas Filipinas desde o dia 8 de janeiro. Do dia 12 até o dia do concurso, ficará confinada com as outras concorrentes. “Tentarei manter a mesma tranquilidade que tive no Miss Brasil. Acho que foi o meu diferencial”, entrega. Ela, inclusive, não acredita que seus atributos naturais, são 1,77m de altura, 90cm de busto e 90cm de quadril, sejam tão determinantes para uma possível vitória. E também não teme as concorrentes que se submeteram a inúmeras cirurgias plásticas em busca da perfeição. “Claro, o corpo bonito conta, mas acredito que atualmente valorizam mais a naturalidade. Porém, se uma cirurgia fará a mulher se sentir mais bonita e aumentará autoestima dela, sou totalmente a favor”, defende.