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Jéssica Ellen "A gente precisa aprender a não ser racista"

Ao encerrar o trabalho em Justiça, Jéssica Ellen fala sobre empoderamento feminino, origem humilde e o sucesso na TV

Daniel Lopes Publicado em 22/09/2016, às 17h12 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h44

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Jéssica Ellen, protagonista da série Justiça, posou em hotel de São Paulo para a CONTIGO! - Martin Gurfein
Jéssica Ellen, protagonista da série Justiça, posou em hotel de São Paulo para a CONTIGO! - Martin Gurfein
Ela é quem atende a campainha do quarto do L’Hotel Porto Bay, em São Paulo, onde recebe a equipe da CONTIGO!, ainda com chinelos de borracha, para a sessão de fotos e entrevista. Jéssica Ellen, 24 anos, está no topo. Depois de Malhação e duas novelas, ela viveu Rose, uma das protagonistas da minissérie Justiça, que chegou ao fim nessa semana. Nascida e criada na comunidade da Rocinha, Jéssica já trabalhou como faxineira e obteve o que poucas conseguem, chegando ao estrelato mesmo com a origem humilde. “Minha mãe queria ser enfermeira e não conseguiu. Ela se tornou empregada doméstica e sempre me disse que eu precisava estudar muito para conseguir alguma ascensão, então eu corri atrás disso”, relembra a atriz, que ainda tem na memória o início da carreira e o racismo que enfrentou na infância.

Nascida e criada na comunidade da Rocinha, Jéssica revela que planeja se mudar para viver com amigos

DESEJO DE SER ATRIZ
“Tinha uns 13 anos quando veio o clique de que eu poderia dar vida a vários personagens e ter isso como carreira. Na escola, participei de algumas peças de teatro. Nós cuidávamos de tudo, do roteiro, da atuação, da coreografia. Participei de vários projetos sociais ligados ao teatro e à dança. Cresci tendo na cabeça que precisava estudar e adquirir conhecimento para chegar aonde gostaria. Ninguém tira o conhecimento de você. Passava a semana toda acordando cedo para ir à escola, a um projeto social e depois para outro. Só descansava no fim de semana.”

REPRESENTATIVIDADE
“É uma questão fundamental para os negros no Brasil. Lembro que, quando mais nova, eu amava a Branca de Neve e, na escola, as outras meninas olhavam pra mim e falavam “você não é a Branca de Neve” quando eu pedia pra ser. Perguntava por que e elas diziam que eu não podia porque era negra. Cresci sem ter aquela referência. As minhas primas que vieram na geração depois de mim já têm uma princesa negra para assistir, por exemplo. Cresci ouvindo que era parecida com a Taís Araújo (37). Ela e a Camila Pitanga (39) foram as duas atrizes que acompanhei desde novinha, me identificava muito. Ainda falta espaço pra mulheres negras na TV. Quero abrir portas para outras meninas, assim como a Taís e a Camila abriram para mim. A gente precisa se ver, se enxergar em bons exemplos. Mr. Brau tem este sucesso por causa disso. O público tem que se acostumar a olhar o negro como alguém de sucesso, que faz bem o que faz. É uma grande responsabilidade ser este exemplo.”

“Me dei conta que meu cabelo era legal e eu gostava muito dele”, revela sobre sua transição capilar

RACISMO
“Toda criança negra sofre racismo e não entende por quê. Tenho um amigo cujo irmão chegou em casa uma vez chorando porque uma menina não quis dançar com ele na festa junina. De onde aquela criança tirou isso? Converso muito sobre feminismo negro e a gente vai percebendo como a mulher negra ainda é vista só como muito bonita, sensual. É preciso transformar isso, é urgente. Assim como a gente aprende a ser racista, precisamos aprender a não ser. Essa criança que não quis dançar com o menino porque era negro ouviu isso em algum lugar. Quando você cresce, você se dá conta que foi a última a beijar na boca, a última a namorar, ouve das amigas que seu cabelo é duro. Minha prima, que hoje tem 8 anos, já não sofre com isso. Ela quer deixar o cabelo dela natural, com volume. Eu alisava o meu cabelo, tive que passar pela transição capilar. Os processos de alisamento me queimavam, me machucavam. Quando eu me dei conta, não quis mais aquilo. Não lembrava mais como era a raiz do meu cabelo. Quando eu vi meu cabelo natural, foi libertador. Espero que as meninas negras escolham se querem ter o cabelo liso num dia, enrolado no outro, com trança, com dread, raspado... Mas que isso seja uma escolha delas e não um padrão imposto pela sociedade branca.”

JUSTIÇA
 “Eu sou fã de todo mundo no elenco, cresci assistindo a Débora Bloch (53), Adriana Esteves (46), Drica Moraes (47). São mulheres que sempre admirei. São personagens que, se você for pra Recife, você pode encontrar uma delas no meio da rua. Quando recebi o perfil da Rose, achei muito bacana interpretar uma personagem assim, representar muita gente que me diz que se identifica com ela, que passaram por situações parecidas. Acho que a Rose é um ser iluminado, de outro mundo. Ela perdoou a amiga que a abandonou. Eu me pergunto, se a Débora (Luisa Arraes, 23) tivesse voltado e chamado a mãe para a delegacia, será que a história não seria diferente, as duas seriam liberadas? O Celso (Vladimir Brichta, 40) foi quem vendeu as drogas e a Rose já reata o romance saindo da cadeia. Eu não perdoaria nenhum dos dois.”

BEYONCÉ DO BRASIL
“Sempre falo que quero ser a Beyoncé do Brasil. Comecei dançando, depois fiz teatro e sei cantar também. Minha vontade um dia é juntar essas três artes. Agora, estou trabalhando mais como atriz, mas voltei a fazer aula de canto. A Beyoncé (35) junta tudo isso tão bem! E não só isso. Ela dá sempre um recado sobre feminismo, empoderamento da mulher. Eu me identifico com isso. O clipe de Formation foi genial. Fui assistir e comecei a chorar. Só pensava em como ela é maravilhosa.” 

Jéssica revela que Beyoncé 
é uma grande inspiração