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Exclusiva: Charlotte Gainsbourg, do filme Ninfomaníaca, fala da sua conexão com o Brasil

A cantora e atriz começa a turnê do seu quinto e mais novo disco, Rest, e conversou com CONTIGO! sobre o processo de criação, a mudança pra NY e a oportunidade de trabalhar com Paul McCartney

Por Tainá Goulart Publicado em 16/02/2018, às 17h19 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

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Charlotte Gainsbourg lança seu quinto disco, Rest - Collier Schorr e Philippe Quaisse
Charlotte Gainsbourg lança seu quinto disco, Rest - Collier Schorr e Philippe Quaisse

As trilhas sonoras dos filmes de terror, aquelas densas, que te deixam sem respirar na frente da TV, ficaram tanto na mente de Charlotte Gainsbourg, 46 anos, atriz e cantora francesa, famosa pelos trabalhos feitos com o diretor de cinema Lars Von Trier - Anticristo (pelo qual foi premiada em Cannes, em 2009) e Ninfomaníaca (2013) - que ela não se desgrudou dessas e outras referências para compor o seu quinto álbum da carreira, Rest. “Eu cresci vendo filmes de terror, praticamente a minha infância toda, e isso ficou na minha cabeça. Talvez seja influência do meu pai, mas o disco é cheio de lembranças minhas familiares, seja de coisas que assistia, ouvia, claro, muita influência da música francesa em geral”, relembra ela, que é filha de Serge Gainsbourg, um dos nomes mais tradicionais e cultuados da música francesa, e de Jane Birkin, atriz e cantora inglesa. Em uma conversa exclusiva pelo telefone com CONTIGO!, Charlotte contou mais sobre o processo de criação, sobre a decisão de colocar, pela primeira vez, suas próprias composições em um disco e de suas parcerias com Guy-Manuel de Homem Christo, um dos integrantes da dupla Daft Punk e Paul McCartney.


Essa é a capa do seu novo trabalho: Rest

A palavra rest, que em inglês tem significados como resto, descanso, repouso, diz muito sobre esse novo trabalho. Não foi um descanso de férias, mas sim uma pausa para atravessar vários momentos conturbados, como o luto pela morte da meia-irmã, Kate Barry, que caiu da janela de um apartamento, em 2013. E esse processo todo lhe despertou a vontade de se mostrar compositora. “Eu demorei um certo tempo para entender o que eu queria fazer (seu último trabalho em estúdio havia sido lançado em 2010). Até então, eu estava em função de ser mãe, ler meus livros, fazer turnê de música e cinema, e isso foi me dando material, fui compondo em segredo acho (risos). Não fiquei melhor ou pior depois que o disco ficou pronto, mas acho que aprendi que poderia ser compositora.”


Ela se mudou para Nova York, mas pensa em voltar para a terra do seu pai, a França

CONTIGO! - Este é o seu quinto álbum e é a primeira vez que você coloca suas próprias composições para jogo. Como isso aconteceu? Você poderia contar um pouco do processo de criação?
Charlotte - Como falei, demorou um pouco, na verdade quase sete anos (risos). Queria ficar um pouco sozinha, entender minhas questões e comecei a escrever. Quando comecei a trabalhar com o SebastiAn (produtor que já trabalhou com Frank Ocean, DJ Kavinsky), ele me disse para não parar de escrever as minhas músicas, pois isso me levaria a um lugar novo. E isso funcionou muito, me achava bloqueada e vi que era impressão. Acredita que eu usei referências de filmes de terror pra compor? As trilhas sonoras ficaram na minha mente. Talvez seja influência do meu pai, mas o disco é cheio de lembranças minhas familiares, seja de coisas que assistia, ouvia, claro, muita influência da música francesa em geral.

CONTIGO! - E, depois de compor, como você fez para escolher as que iriam entrar na lista de Rest?
Charlotte -
Depois de compor, mostrei pro SebastiAn e ele me questionou se eu estava confortável com aquelas letras. Com o meu ‘sim’, a gente começou o processo de produção. É um momento muito mágico e louco, pois as canções saíram de mim, do meu universo particular, as minhas dores e revelações, para todo mundo ouvir. Posso dizer que é um disco honesto. Me mudar para Nova York com a família também fez que eu me sentisse isolada de tudo, o que contribuiu para eu ter um norte. Porém, acho que volto pra França, me sinto em casa lá. Nova York é quase meu local de férias (risos)!


Charlotte é gente como a gente: tremeu na base ao se encontrar com Paul McCartney!

CONTIGO! - Como foi trabalhar com SebastiAn e o Guy-Manuel de Homem-Christo, do Daft Punk?
Charlotte
- SebastiAn é meu aliado em tudo, sempre me dava dicas durante a produção, nas minhas letras e costumo dizer que não faria esse trabalho se não fosse por ele. O Guy parece que leu meus pensamentos. Ele trouxe um toque mais animado, porém inocente da minha música, foi como um link das canções que precisava para o disco todo ser um só.

CONTIGO! - E a parceria com o Paul McCartney, que lhe deu de presente a faixa Songbird in a Cage?
Charlotte -
Trabalhar com o Paul foi mágico. Sou, como quase todo mundo, mega fã dele e nos conhecemos há uns seis anos. Nessa época, perguntei se ele poderia se encontrar comigo e, então, almoçamos e não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo (risos)! Parecia uma criança tímida,porém, com vontade de saber todos os detalhes da vida dele. Aí, ele disse que se eu tivesse alguma letra, eu poderia mostrar pra ele e foi o que eu fiz, duas semanas depois. Quando ele me mostrou a música e disse para eu fazer o que quisesse com ela, entrei em pânico. Será que faria jus ao talento do Paul? E se eu estragasse aquela preciosidade? Muitos desses pensamentos passaram pela minha cabeça e acho que deu certo.


"O que mais me atrai na música brasileira sãos os ritmos, que se misturam tão lindamente", disse ela, sobre o Brasil

CONTIGO! - Você assina a direção de vários videoclipes de Rest. E, no momento, estamos vendo várias premiações com protestos sobre assédio no cinema e em tantos outros lugares da mídia. Como você vê esse momento da mulher na indústria do entretenimento?
Charlotte -
Para falar a verdade, eu estou refletindo muito sobre esse assunto, pois me acho dividida. Não quero uma sociedade de mulheres contra homens. É claro que elas devem falar quando forem traumatizadas ou violadas e devem buscar seu espaço, não só no entretenimento, mas em tudo o que acharem válido. Mas, se as pessoas que estão sendo acusadas não são culpadas, há uma injustiça. É preciso avaliar bem os fatos, as coisas ao redor… Acho que a internet está fora do controle das pessoas, tudo muito rápido e extremo e isso não é bom.

CONTIGO! - Existe alguma chance de você vir tocar aqui no Brasil?
Charlotte -
Eu amaria, do fundo do meu coração. Nunca estive no Brasil, o mais próximo daí foi quando estive na Argentina. Me disseram para ir visitar as Cataratas do Iguaçu na parte brasileira, mas não deu tempo. Fiquei bem triste, pois é um sonho conhecer mais da cultura de vocês. Vou me esforçar ao máximo para fazer alguns shows aí com a turnê do meu disco Rest, no entanto, mais para o fim do ano. Agora, já estou com a agenda definida para a Europa e os Estados Unidos, mas quem sabe?

CONTIGO! - Você disse que gosta da nossa cultura… Já ouviu algum artista ou música brasileira?
Charlotte -
Posso dizer que conheço mais os óbvios, como Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso. O que mais me atrai na música brasileira sãos os ritmos, que se misturam tão lindamente. Uma vez, alguns amigos franceses que foram no Carnaval, me fizeram prometer que eu iria alguma vez na vida, pois eles sabem da minha conexão com esses ritmos que fazem o nosso corpo dançar. Aguardem quando eu for, será uma experiência incrível para mim, imagina para vocês (risos)

Confira, abaixo, o vídeo de Lying With You, dirigido por Charlotte e gravado na casa do pai dela, Serge Gainsbourg, falecido em 1991: