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Ana Cañas usa da força feminina para lutar contra o assédio sexual

Por Tainá Goulart Publicado em 16/08/2017, às 19h13 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

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Ana Cañas - Fotos: Rogerio Pallatta
Ana Cañas - Fotos: Rogerio Pallatta
São dez peças de roupa no armário, sete pares de sapatos, poucos acessórios, uma guitarra, um violão e uma bicicleta. “Virou até lenda em casa, as pessoas me visitam e pedem para ver o meu guarda-roupa. Há cerca de dois anos que não compro uma peça nova, o desapego é total. Não tive um motivo específico, foi uma vontade de achar um sentido maior para a minha pessoa”, revela Ana Cañas, 36 anos, a dona dos limitados itens. De um tempo para cá, a cantora tem direcionado sua vida para um caminho mais simples e, além do lado fashion, ela mudou a alimentação, se iniciou na meditação e reformulou sua maneira de compor e cantar. O single Respeita, lançado no fim de maio, traz uma temática única, sobre violência feminina, e é, segundo ela, o ápice desta mudança. “Eu sofri assédio sexual aos 16 anos, dentro da minha própria casa, com um parente da família. Desde então, vivi com essa sombra em silêncio e sozinha. Resgatar a simplicidade me fez trazer este assunto para a música, de forma leve, porém ativa. O silêncio é o que favorece a cultura do estupro e nós estamos aqui para falar”, enfatizou Ana, que convidou várias mulheres, famosas, como Sophie Charlotte, 28, Elza Soares, 80, e anônimas para participar das gravações do videoclipe. “Eram cerca de 50, mas muitas trouxeram suas amigas e, no total, gravamos com mais de 86. Escutei a história de cada uma e o abuso, a violência e o assédio foram recorrentes. Elas tinham que fechar os olhos, lembrar de algum episódio e, depois, olhar para a câmera. Foi emocionante.” Confira trechos da entrevista com a cantora. 
Além da bicicleta, a cantora brinca que ainda tem o violão Gibson e uma guitarra vermelha, um presente de 
Os Paralamas do Sucesso
Mudança drástica “Esses dias, minha mãe me deu uma bronca ao ver minhas roupas (risos)! Falou para eu cuidar mais da aparência, mas não consigo mais usar um monte de coisa. É um trabalho gradual, que mudou a minha vida. Antes, entrava em loja de grife e torrava todo o meu dinheiro e, hoje, é inconcebível gastar mil reais em uma blusa ou calça. O desapego material e a expansão da consciência são os meus maiores lemas de vida.”
Nova compositora “Caminhar em direção à simplicidade transformou diversas áreas da minha vida. Depois do Respeita, eu olho para frente sem um peso nas costas. Tenho asas, na verdade! Quero compor mais sobre feminismo, cultura do estupro, e dar voz às pessoas que não tem condições ou têm medo. Acho até que vou sair um pouco do meu universo romântico de sempre e já vejo minhas canções de amor diferentes também.”
quase uma catarse “Todo o processo de gravação foi catártico. Sentar e ouvir as histórias daquelas mulheres me transformou e, por conta do videoclipe, fiz amizades maravilhosas. Sai da minha bolha social e fui conhecer comunidades na favela do Rio de Janeiro, ocupações do aqui em São Paulo, uma cooperativa de recicláveis… De uma música, surgiu um universo inteiro de novas possibilidades.” 
Dona de parcerias com vários cantores conhecidos, como Nando Reis e Arnaldo Antunes, Ana promete material novo para 
o começo do ano que vem. “O bom de envelhecer é poder prestar atenção em todos os detalhes”, diz ela
Até quando? “O assédio nunca acaba. Tempos atrás, eu estava no parque, andando de bicicleta, e um cara ficou me perseguindo, me parou e pediu para eu descer. Dei um berro com ele e pedi pra ele se afastar. Desde então, nunca mais o vi por lá. Amém! Até quando o homem vai achar que pode olhar para a gente como se fôssemos objetos? Precisamos evoluir com urgência.”
Bênção de diva “A gente conseguiu gravar na casa da Elza Soares, que é uma das minhas musas inspiradoras. Eu ajoelhei na frente dela e falei: ‘Nunca pediria bênção para nenhum padre ou pastor, mas para você eu peço’. Nisso, ela colocou a mão na minha cabeça e me abençoou. Em seguida, aquela diva me agradeceu por ter escrito aquela letra e eu, claro, abri a boca pra chorar. Que vergonha (risos)!”
Próximo disco “O meu próximo disco, que deve sair no começo do ano que vem, vai ter muitas músicas existenciais. O bom de ficar velho é isso, pensar mais em cada detalhe do processo, das letras… Estou demorando mais para compor, mas acho normal e saudável.” 
Ela revela que sofreu assédio sexual aos 16 anos. “Dentro da minha própria casa, com um parente da família”